quarta-feira, 28 de março de 2012

A VARÍOLA


A origem da varíola permanece obscura; os maiores indícios apontam como originária do Oriente, principalmente da China, cerca de mil anos antes de Cristo. O isolamento chinês contribuiu para restringi-la àquela área do globo. Somente no século  VI d.C. surgiram relatos da sua incidência na Europa. Acreditando-se ser esta a época da introdução da varíola no Ocidente .



Foto da múmia de Ramsés, com sinais de erupções hoje atribuídas a varíola
fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/contagio/contagio-16.php

A varíola sempre foi um mal temido pelas famílias européias. Era a principal causa de mortalidade infantil. Aparecia em epidemias nas cidades, os acometidos ficavam acamados, com febre, e surgiam as horríveis bolhas na pele contendo pus.


A possibilidade de usar uma única vacina contra todas as formas clínicas da varíola encorajou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a tentar a erradicação total da doença em todo o mundo.
Aparentemente, o projeto foi bem-sucedido: aos dois milhões de mortos por varíola em 1967, contrapôs-se a marca de nenhum caso registrado entre 1977 e 1980.
fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/variola/variola-7.php

Cada epidemia levava à morte 20% a 40% dos doentes. Quando conseguiam sobreviver as sequelas eram cicatrizes pela pele e também a cegueira causada por lesões no corpo. Nos séculos XII e XVIII, em decorrência da doença, um terço dos habitantes de Londres apresentaram cicatrizes horríveis e dois terços ficaram cegos. Da Europa, a varíola avançou para as colônias americanas que se formaram no litoral do continente no início do século XVII.
Em 1700, o Dr. Martin Lister, membro da Royal Society, recebeu cartas de colegas que descreviam os métodos empregados  na China. Os chineses retiravam as crostas das lesões, reduziam-nas a pó e o assopravam através de bambus nas narinas das crianças, fazendo com que estas ficassem protegidas. Sabemos hoje que introduziam quantidadesde vírus atenuados ou mortos que não causavam a doença, mas suficiente para estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos.


Os chineses protegiam as crianças contra a varíola soprando em suas narinas um pó tirado das feridas dos doentes.
fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/contagio/contagio-16.php


Em 1713, o médico grego Emmanuel Timoni descreveu um método de inoculação que também era utilizado na Turquia, pelo qual se introduzia a ponta de uma agulha no conteúdo pustulento retirado das lesões da varíola e se faziam pequenas incisões com a agulha contaminada na pele do braço. Ocorria uma reação na pele, que cicatrizava. Hoje sabemos que se dava uma proliferação do vírus nessa incisão, com reação da imunidade e formação de lesões no local do ferimento para posterior produção de anticorpos, este método foi denominado de variolização.
A Royal Society, recebendo as informações sobre esses métodos, entrou em debates quanto à validade e utilidade do procedimento. A década de 1710 foi marcada por discurssões entre os membros, cujas opiniões divergiam, enquanto Londres presenciava três epidemias da doença que mataram, cada uma, cerca de três mil pessoas.
Uma das colônias inglesas na América, Boston, recebia um número cada vez maior de imigrantes ingleses, e com eles, o vírus da varíola. A cidade entraria na história como a primeira a usar o método de prevensão contra a doença.
Em 1666 conheceu a primeira epidemia de varíola que matou cerca de 1% da população que era de quatro mil habitantes. A doença retornou 10 anos depois e em um único dia matava cerca de 30 pessoas. Em 1702, quando a população já era de sete mil habitantes, a varíola matou 4%. O número de mortes tendia sempre a crescer quando em 1721 matou 7% de uma população de 11 mil habitantes. Mas desta vez foi diferente em razão do conhecimento da variolização. O Reverendo Cotton Mather, da própria cidade, era defensor da inoculação desde a década anterior, pois escutara de um escravo que na África era comum a prática de introduzir material das pústulas da varíola em cortes feitos na pele, evitando-se assim a doença. Cotton ficou perplexo quando em 1714 leu as publicações do Royal Society sobre os métodos adotados pelos médicos gregos que coincidiam com os relatos do escravo.
Diante da epidemia de 1721 que estava prestes a dizimar parte da população local, o Reverendo persuadiu o Dr Boylston a iniciar as inoculações nos cidadãos suscetíveis a doença. Surgiram divergências de opiniões e até a casa do Reverendo foi atacada. Foram feitas 242 inoculações, das 855 pessoas mortas, apenas seis haviam sido inoculadas.
Todos os dados relativos a inoculações realizadas foram encaminhados ao Dr. Jurim, secretário da Royal Society, que logo chegou a conclusões sobre os riscos do método. A inoculação causava feridas extensas no braço inoculado, e as infecções; erisipelas, eram frequentes. O risco do procedimento era uma morte em cada cinquenta inoculações. As discurssões agora se referiam a quando inocular, uma vez que a técnica era capaz de levar a complicações e à morte, e até ao aparecimento da varíola ou de epidemias da doença em áreas que antes não a apresentavam. Muitos membros da Royal Society sugeriaram a inoculação em épocas de epidemia, nas quais a mortalidade por esse mal era muito maior que pela inoculação.
Por outro lado, alguns membros da Igreja condenavam o procedimento, pois a varíola era vista como um castigo divino, e o homem estaria interferindo na conduta e na vontade de Deus ao tentar evitá-la.
Ao pensar que Galileu há um século atrás sugeriu que o movimento das marés não era obra divina, e agora o homem estava medindo forças com Deus pois criava-se métodos para evitar seu castigo! Enfim, estava-se surgindo o Iluminismo e o homem tinha conhecimento da sua capacidade de fazer as leis da natureza atuarem no sentido de melhorar sua condição de vida.
Boston veria uma nova epidemia de varíola em 1763, já com uma população de 15  a 20 mil habitantes. Quando os 13 primeiros casos surgiram com 11 mortes, esperava-se uma taxa de mortalidade muito maior do que em 1721 que foi de 7%. Porém, medidas de quarentena foram empregadas, e cerca de cinco mil pessoas foram submetidas a variolização. A epidemia acometeu apenas 1% da população.





A PRIMEIRA VACINA

O sudoeste da Inglaterra era uma região dedicada à economia leiteira, com pastagens apropriadas para a criação de gado, vivia da retirada do leite bovino para comercialização e de tempos em tempos, ocorria ali uma doença que recebeu o nome de cowpox, a varíola bovina.
Consistia em lesões de vesículas no úbere da vaca, que erm muitas vezes transmitidas às mulheres durante a ordena de um animal infectado. Mas a doença nessas mulheres ficava restrita às mãos , que também começavam a desenvolver lesões bolhosas semelhantes às da varíola , cicatrizando logo em seguida. A varíola da vaca era transmitida para as mãos da pessoa que ordenava o animal sem causar nenhum mal maior. Começaram a observar que aqueles que adquiriam cowpox ficavam imunes à varíola. Por ser um vírus semelhante ao da varíola, o cowpox estimula uma resposta imunológica também eficaz para o vírus da varíola, o que chamamos de reação imunológica cruzada. Observaram também,contraia a doença não apresentavam a lesão quando inoculados pela variolização. Além disso, como as vacas curadas não voltavam a desenvolver o cowpox, refeorçava o papel de prevensão apresentado por essa infecção, e por isto empregou-se para evitar a varíola no lugar da variolização.


Cowpox e o detalhe da lesão na mão
fontehttp://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Var%C3%ADola+Bovina&lang=3



Foi em Gloucester um condado na Inglaterra, região dedicada ao gado leiteiro que em 1749 nasceu Edwar Jenner. Jenner formado cirugião, interessou-se pela história natural dos animais e pesquisou as doenças que acomentiam os animais e o homem, seu interersse logo foi despertado pela proteção a varíola que  o cowpox dava às mulheres que faziam a ordenha. Em 1789 surgiu um surto de varíola bovina no condado.
Sarah Nelmes, a babá de seu filho, adquiriu a doença, então Jenner inoculou o conteúdo das pústulas em em filho e mais em duas empregadas. Nenhum dos inoculados manifestaram a varíola, ficaram protegidos.
Em maio de 1796, com o aparecimento de cowpox na região, Jenner novamente retirou o conteúdo das pústulas  e inoculou num garoto de 8 anos. Após sete semanas, quando o garoto foi então inoculado com a varíola, nada ocorreu, o que incentivou Jenner a empregar o cowpox outras vezes. O trabalho foi extendido a mais 8 crianças. Seu trabalho foi apresentado a Royal Society, que não o aceitou em razão do pequeno número de casos relatados. Diante da rejeição, Jenner publicou um livro sobre a inoculação do cowpox para a proteção da varíola. Por ter usado o termo latino referente a vaca em suas publicações, vaccina, sua técnica ganhou reconhecimento, tornou-se uma vacina que protegia da varíola, o que deu origem a essa denominação empregada até nossos dias.


 

Pintura de Ernest Booard, onde Jenner aplica a primeira vacina em 1796.
fonte:http://vacinar.net/site/historia-da-vacina.php

Edward Jenner,certa vez ouviu uma paciente dizer: "eu não posso ter varíola, pois já tive cowpox". Esta frase ficou retida em sua memória e foi o motivo de todas as suas observações em anos posteriores.
fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/variola/variola-7.php






Apesar da eficiência dessa técnica, Jenner foi combatido pelo fato de usar material de animais para inoculação em seres humanos. Seus opositores chegaram a levantar a possibilidade das pessoas desenvolverem feições de vaca ou lhe surgirem órgãos semelhantes ao do animal. Outra dificuldade do método era encontrar animais com a doença a fim de se inocular as pessoas. A maneira de solucionar a falta de epidemia de cowpox, foi usar a secreção que aparecia nas lesões do  braço das pessoas vacinadas, quando inoculadas com a variola. A criança que recebia o material em pequenos cortes no braço desenvolvia uma ferida ulcerada ao longo de uma semana, então retornava ao médico, que colhia o material das lesões e inoculava imediatamente no braço de outra criança.


detail from Illustration of Edward Jenner Vaccinating James Phipps,artist unknown. Undated illustration. Photograph © 2001 Bettmann/Corbis. Reproduced with permission.
fonte: http://cid.oxfordjournals.org/content/33/5.cover-expansion
Este técnica provocava menor reação cutânea que a variolização, além de não causar surto de varíola, fatos suficientes para conquistar a população médica e ser usada com método de escolha para prevenção.
O problema que a linfa retirada da outra pessoa poderia transmitir a sífilis assim recomendou-se que a inoculação fosse feita diretamente do úbere da vaca acometida com cowpox, a chamada  "vacinação animal.


fonte:http://www.sciencephoto.com/media/300640/enlarge



Harvesting vaccine from a cow in the 1870s. © unknown fonte:http://timelines.tv/smPox/more/spread5.html

Para Jenner , o controle da varíola pelo método da inoculação, extinguiria a doença da face da Terra, o que foi confirmado na década de 1970. Hoje ela está extinta, mas o vírus é guardado em laboratório nos Estados Unidos e Rússia. Essas amostras do vírus da varíola, que ficaram esquecidas pela população mundial voltaram ao noticiário no início do século XXI, como veremos na postagem sobre guerras bacteriológicas.


Pormenor evidenciando humanos transformando-se em gados
fonte:http://medicineisart.blogspot.com.br/2010/09/os-efeitos-da-vacina-antivariolica.html



 A varíola bovina, ou Os efeitos maravilhosos da nova vacina (1802) James Gillray. Gravura. Biblioteca Nacional de Medicina (Bethesda)
fopnte: http://medicineisart.blogspot.com.br/2010/09/os-efeitos-da-vacina-antivariolica.html







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