quarta-feira, 14 de março de 2012

LEPRA; FOI REALMENTE LEPRA?

Originária da Índia  e da China, acredita-se que a lepra tenha sido levada para as proximidades do Mediterrâneo pelas conquistas de Alexandre o Grande. Mas o início do surgimento de um maior número de leprosos no território europeu coincidiu com o da época das cruzadas, no final do século XI.
Ao circular pelas cidades européias encontrou um população que não havia tido contato prévio com a lepra.
A Igreja tomou a dianteira do controle desses casoso, sob a orientação de suas crenças. No Antigo testamento hebreu, o Levítico descreve doenças de pele como impurezas da alma que afloram e por isso, as pessoas que as possuem devem ser banidas da comunidade para sua purificação. Diante do aumento de casos com o retorno dos cruzados, a Igreja sustentou que as lesões eram sinais de impurezas pelas quais as pessoas estavam sendo castigadas por Deus. Cada cidadão que surguia com manchas na pele tinha sua moral julgadas pelos vizinhos. Para manter o mundo cristão livre de imoralidades e pecados, era necessário procurar os que Deus estava punindo e bani-los das comunidades.


Na Bíblia, as doenças são descritas muitas vezes como castigos divinos. Essa ilustração medieval mostra Jó atingido pela lepra. Uma doença à qual o Levítico dá grande atenção é a lepra. No entanto, a lepra a que a Bíblia se refere nem sempre corresponde àquilo que chamamos de lepra.
No final de século XI, ocorreu o início da grande perseguição aos leprosos, que se perpetuaria por três séculos.
 Foi caracterizada pela descoberta de muitas pessoas com lepra, e estas foram segregadas das comunidades sob orientação da Igreja. Fica a dúvida sobre se o aumento de casos da doença foi uma epidemia verdadeira ou uma perseguição alucinada e frenética comandada pelos dogmas da Igreja, segundo os quais diversas doenças de pele recebiam um só diagnóstico, a lepra. Não é uma doença que se adquire facilmente, diferentemente de outras como a varíola, que se torna epidemia em pouco tempo.
Além disso, as pessoas com suspeita de ter a lepra, ou seja, as pessoas impuras , pecadores, sem moral - portanto, punidas por Deus com a doença, eram submetidas a exame de confirmação por um júri nada eficaz. Não se tinha experiência em relação a essa nova doença, o que tornava difícil seu diagnóstico apenas pelo exame das lesões. O júri era composto basicamente por pessoas comuns ou do clero, e muitos erros se cometiam. Dessa forma, milhares de indivíduos foram expulsos das cidades e condenados aos anonimato e a segregação, ingressando nas colônias de leprosos ou mendigando na periferia das cidades.
O leproso identificado era excluído da comunidade por uma cerimônia religiosa, a "missa dos leprosos". Era apresentado diante do altar com um capuz negro a cobrir-lhe a cabeça, e recebia sua sentença. Sob pena de excomunhão. Era proibido de exercer atividades diárias na cidade, lavar-se ou usar as fontes, entrar em lugares religiosos e tocar nas pessoas, principalmente nas crianças. Após as proibições, recebia um par de luvas, pão e um instrumento sonoro, uma matraca de madeira e ferro para anunciar sua chegada a lugares públicos.
Após a cerimônia, era levado ao portão da cidade, onde jogavam punhados de terra em seu corpo. Isso representava o ato final de banimento de leproso na sociedade medieval.



 "o padre deve ter uma pele na mão e com essa pele deve pegar terra do cemitério, três vezes, e pô-la na testa do leprosos, dizendo o seguinte: Meu amigo, é sinal de que estás morto para o mundo e por isso tem paciência e louva em tudo a Deus."

Em todo o tempo, os leprosos eram alvo de acusações e perseguições.  O ano da grande perseguição, em 1321, o rei da França, Filipe V, foi informado de suspeitas de que os leprosos estariam planejando o envenenamento dos poços da Franca. Filipe V reuniu-se com um conselho de inquisidores dominicanos, e decidiram organizar uma perseguição em massa dos leprosos para pôr fim à conspiração.
Millhares de leprosos suspeitos de envolvimento foram perseguidos. Por meio de tortura, obtiveram confissões, que levaram a outros cúmplices. Os inquisidores convenientemente chegaram a conclusões de que comunidades judaicas e os mulçumanos estariam patrocinando o plano dos leprosos. Assim a Igreja poderia agora perseguir não somente mulçumanos, mas também leprosos e judeus, assim como confiscar suas propriedades, enriquecendo a Coroa. Tornou-se uma perseguição em massa, que já não seguia nenhum critério de julgamento. Tornou-se um direito matar leproso.
No século XIV, houve uma diminuição da perseguição a esses doentes. Ao que tudo indica, a Igreja voltou-se mais para perseguir judeus, bruxas e hereges. Outro fator foi a  diminuição do número de casos foi a inovação judicial que colocou médicos no juri responsável pelo diagnóstico de caso suspeito de lepra.


Imagem da época mostra padre abençoando doentes de peste (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

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