quinta-feira, 15 de março de 2012

O TIFO

Um agente infecciosos conhecido como Rickettsia é o causador do tifo. Alberga-se no organismo dos piolhos e sua transmissão para o homem se dá pela picada desses inseto, que o transferem para o sangue. A epidemia de tifo se instala com o aumento das infestações por piolhos numa população. Os aglomerados humanos com má higiene, frequentes nas guerras, campos de concentração, acampamentos militares e cadeias, ocasionaram a grande maioria das epidemias de tifo.
Depois que a Rickettsiai é introduzida no sangue, o paciente tem febre, dores pelo corpo,  mal-estar, indisposição e dor de cabeça.  Mas o maior dano ao ser humano se dá com as lesões que esse agente causa nos vasos sanguíneos, que ficam obstruídos. Áreas do corpo passam a não receber sangue adequadamente, e as lesões avermelhadas na pele progridem para a necrose, o apodrecimento do tecido, perdem braços, dedos ou pernas. Diante deste quadro, é fácil imaginar a alta mortalidade que o tifo causava e o aspecto pavoroso dos doentes.
O século XIV, como todos os anteriores, foi marcado por guerras constantes, porém com a diferença de que somente nesta época a Rickettsia foi levada para a Europa e a maioria de suas aparições na História deveu-se às guerras.
A doença entrou na Europa pelo sul da Espanha em 1489, através da guerra espanhola pela reconquista de Granada, último terretório mulçumano na Península Ibérica. De acordo com os relatos, dos 20 mil combatentes mortos na guerra, 17 mil  foram vítimas do tifo. Mais preocupante foi o regresso desse exército, que levava além de glórias da vitória, o agente responsável pela terrível doença.
As duas potênicas em ascensão, França e Espanha, travavam guerras por disputa de territtórios, acompanhadas dessa vez pelo tifo, presente então na Europa. O território intensamente disputado por esses dois Estados foi o italiano. O exército espanhol conquistou regiões ao norte da Itália e se preparava em defesa nos  territórios conquistados em Nápoles. Em Roma ocorreram epidemias de peste bubônica que acometeram o exército espanhol, além da falta de provisões devido a bloqueios marítimos feitos pelos genoveses na baía de Nápoles. Com fome e depauperados era inevitável que um exército espanhol de 11 mil homens não fosse massacrados por um exército francês de 28 mil homens.
Durante o cerco a Nápóles, o tifo acometeu os acampamentos franceses, causando o extermínio de sua força militar. Dos 28 mil combatentes franceses permaneceram vivos quatro mil fugitivos, determinando o poder espanhol sobre o papado e a Itália.                                           
Além de reinar nos acampamentos militares, a doença invadia as prisões européias, e por isso ficou conhecida como a "febre das cadeias". Os prisioneiros eram aglomerados em celas imundas, sem higiene e sem banho, o que deflagrava as infestações por piolhos e a disseminação do tifo.
Na Inglaterra, o que também assustou muito a população, foi o fato da doença disseminar-se pelos habitantes por meio dos tribunais. Em 1522, o tribunal de Cambridge, ao abrir sua sessão para o julgamento dos presos, recebeu-os na sala do castelo repletos de piolho transmissores do tifo. Em poucos dias, membros do júri, expectadores e oficiais adoeceream. Em outro julgamento o réu foi poupado do tifo, que se alastrou no tribunal. Dado o grande número de expectadores que tinham piolho, a doença disseminou de forma epidêmica. De volta para casa, as pessoas espalharam os piolhos com o agente causador do tifo entre familiares e vizinhos. Morreram cerca de quinhentos habitantes.
O tifo alastrava-se não somente nos acampamentos militares, mas também nas cidades que recebiam imigrantes e fugitivos das áreas de guerra. Assim em 1624, mais de dez mil habitantes de Amsterdã morreram, Lyon em 1628 sessenta mil mortes. Nuremberg em 1632: cinco mil civis. Milão em 1629: sessenta mil pessoas, quase metade dos seus 130 mil habitantes, Mântua perdeu 25 mil habitantes, colmo 42% de sua população, Pádua, 59%, Verona 61%, República de Veneza, uma das mais populosas com 140 mil habitantes, morreram 46 mil.
Até o final do século XVI, era comum surgirem epidemias de tifo isoladas nas cidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário