quinta-feira, 22 de março de 2012

O TRÁFICO DE NEGROS

A colonização inglesa na América teve início com plantações de tabaco. A intensificação da produção e o crescimento da demanda européia tornaram necessário aumentar a mão de obra. A Inglaterra incentivou a migração para as colônias americanas oferecendo facilidades. Foi estimulada a partida de ingleses descontentes, empobrecidos, que teriam esperanças de uma vida e de um futuro melhor diante da possibilidade de aquisição de terras próprias para cultivo. No século XVII, ao contrário do que aconteceu na América Latina, o trabalho agrícola das colônias inglesas foi realizado por colonos, imigrantes e nao por escravos.
Em 1633 em Nova Virgínia, com   a entrada de europeus nas terras americanas, deu inicio a uma epidemia de varíola, que devastaria da população indígena. Ao longo do século viriam novas epidemias, porém em 1677 foi a pior do século, onde morreram até 9 pessoas por dia. Seguindo a varíola, vieram o sarampo e a disenteria.
No século XVII, o crescimento do mercado de escravos fez aumentar o tráfico negreiro. A maior demanda de escravos era para o Brasil e depois para as ilhas do Caribe e colônias inglesas. O tráfico negreiro produziu consequências diversas no que se refere às doenças infecciosas.


O Tráfico Negreiro para o Brasil. O mapa acima mostra a rota do tráfico de negros no contexto da escravidão de africanos nas Américas.
A captura de escravos no interior da África se dava por meio de prisões nas guerras entre tribos, por julgamento de crimes de roubo com punição de escravidão e até com invasões. Ocorreu assim uma comunicação entre as tribos do interior, entre povos de diferentes procedências, o que favoreceu a troca de agentes infecciosos. Depois de capturados, os escravos eram trasnportados em longas caminhadas, com pouco alimento, dormindo ao ar livre, até chegarm ao destino, ao portos de embarque.Nestes local ficavam meses aguardando o navio que os levaria ao seu novo destino. Viviam com pouca roupa, dormindo em armazens ao céu aberto, expostos a chuva, desnutridos e em contato direto com excreções fisiólógicas. Estas condições favoreciam à quadros infecciosos , que ocasionavam muitas mortes. Porém eram nas viagens que ocorria a maioria dos óbitos. As aglomerações em navios específicos para o tráfico eram descomunais, nos porões imundos e sem ventilação, recebiam o nome de "tumbeiros". Nos escravos recebiam água e alimento já deteriorados.

Esquema mostrando como eram transportados escravos em um navio negreiro

Daí a disenteria ser comum nessas viagens e a principal morte entre os escravos.Quando identificados, os mortos eram lançados ao mar.
Estima-se que cerca de dez milhões de escravos cruzaram o Atlântico e chegaram ao Brasil três milhôes e meio de cativos.
Além dos malfeitos para a população negra, outra consequência das infecções decorrentes do tráfico foi a sua disseminação por diferentes áreas do globo, como foi o caso da febre amarela e da malária, exportadas das regiões africanas para as Américas. As Américas com suas florestas tropicais  possuíam toda a capacidade para abrigar os agentes infecciosos da malária e da febre amarela, bastava então somente transportar estes agentes para as proximidades da região.
A transmissão da febre amarela ocorre com a picada do mosquito e a inoculação do vírus responsável pela doença. Inicia-se um quadro febril, queda do estado geral e calafrios, seguidos de compromentimento do fígado e dos vasos sanguíneos. A inflamação daquele órgão provoca um aumento de bilirrubina, causando a cor amarelada, principalmente no olhos e pele, daí o nome da doença; febre amarela. Quando o fígado entra em falência, não mais produz os fatores de coagulação do sangue, o que  provoca sangramentos. A taxa de mortalidade foi elevada; cerca de 15%.
A varíola chegou ao Brasil em 1620 pelo Maranhão, em 1621 estava na Bahia e Rio de Janeiro, depois de 1622 todo o litoral brasileiro enfrentava várias epidemias de varíola, o que obrigou a construção do primeiro cemitéri de escravos pelos franciscanos no Rio de Janeiro.
Em 1686, aportou em Recife navios negreiros com doentes por febre amarela. A doença propagou-se por Olinda, aumentou o número de mosquitos portadores do vírus. Em abril, era notificado o primeiro caso na Bahia, e a disseminação ocorreu rapidamente. A Bahia foi duramente castigada, havia dias em que morriam até duzentas pessoas, dentre elas jesuítas, pessoas humildes e membros da elite. O número de mortes foi maior entre a população branca, provavelmente pelo fato de os negros já terem tido contato com o agente na África.
Os navios também transportaram a febre amarela para as cidades európeias. Nessas embarcações não estavam somente doentes, mas também o mosquito, que proliferava nos barris de água. Lisboa perdeu cerca de seis mil habitantes na epidemia de 1723. Ma como não havia condições climáticas e geográficas para a proliferação do mosquito, esses surtos foram isolados e se extinguiram.

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