quinta-feira, 26 de abril de 2012

NO BRASIL, NOBRES INTENSÕES, BEM CONVENIENTES E MAL INTERPRETADAS.

Ano de 1900, após o controle da peste em Santos, o momento agora era colocar ordem na casa e instituir uma política de saneamento básico, começando pelo Rio de Janeiro.
As cidades portuárias ainda se encontravam em condições precárias de saúde pública: favelas começavam a subir os morros, ruas sem calçamento, com o barro misturado à sujeira de animais e vegetais. As epidemias se repetiam todos os anos, principalmente  febre amarela, varíola, peste bubônica e cólera. Os navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto carioca, admiravam de longe suas belezas naturais. No conceito internacional, o Rio de Janeiro era uma cidade linda, linda para se olhar, jamais para desembarcar nela. Na Europa, as boas companhias de viagem anunciavam em sua propagandas: "Trânsito direto para Buenos Aires, sem passar pelo Brasil e pelos perigosos focos de febre amarela da cidade do Rio de Janeiro". Este era o quadro que o Brasil passava para os outros países, alguma coisa deveria ser feita imediatamente.


Em nome saúde da cidade, o prefeito Pereira Passos quer
limpar o Rio de Janeiro, pra quem? Para a população
ou para a imagem da "Cidade Maravilhosa"!


Oswaldo Cruz participaria ativamente destas medidas. Suas intensões eram acabar com as epidemias. Seu desejo era o mesmo que o desejo dos governantes, porém as  intensões não eram as mesmas.
Os primeiros governos republicanos queriam transformar o Rio de Janeiro na "capital do progresso", uma espécie de cartão-postal que mostrasse ao país e ao mundo "o novo tempo" da República



Imagem do Rio de Janeiro, início do século XX, antes do projeto "Bota abaixo"

O maravilhoso Teatro Municipal foi construído,
uma das muitas obras influenciadas pelo estilo de Paris.
Mas não pensavam onde foram morar as milhares de pessoas
desabrigadas para as obras em estilo francês. Assim surgiram as favelas no morros...





Oswaldo Cruz foi então nomeado, em 1903, diretor da Saúde Pública do Brasil, sua meta inicial era acabar com a febre amarela. Organizou um sistema de saúde pública vinculada ao Poder Judiciário, para garantir que as medidas instituídas fossem obedecidas. A campanha foi montada como uma verdadeira operação militar. Oswaldo Cruz queria proteger a população. A maioria das pessoas não tinha conhecimento suficiente para entender a importância destas medidas, por isto ele optou por impô-las de uma maneira compulsória.

O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, como a derrubada de casarões e cortiços e o conseqüente despejo de seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares. Todas as áreas que eram foco do mosquito foram atacadas. Aterraram-se alagados, lixos foram retirados das ruas, cortiços demolidos. Combatia-se também a peste; pagava-se cerca de trezentos réis por cada rato morto que as pessoas entregavam aos agentes sanitários.

Estas medidas caíram principalmente sobre a classe mais pobre que foi retirada do centro da cidade, o que incitou movimentos de protestos.

No verão de 1904, nenhum caso de febre amarela ou peste bubônica foi registrado. As medidas adotadas surtiram efeitos benéficos e o trabalho de Oswaldo Cruz fora reconhecido.

Infelizmente o mesmo não aconteceu com a varíola. Como não era transmitida por nenhum animal ou inseto e os vírus só seriam descobertos ano depois disseminou-se de forma assustadora. No inverno de 1904 foram 3.566 mortes por varíola. Oswaldo Cruz intensificou a política de vacinação.

A vacina contra a varíola, graças aos esforços de D. João VI, já era obrigatória para crianças desde 1832. Mas esta lei nunca fora seguida pela população, sendo usada em larga escala pelos fazendeiros nos seus escravos.

No auge da epidemia de varíola em 1904, Oswaldo Cruz empreendeu sua campanha para a vacinação maciça da população. Em julho daquele ano, era aprovado um projeto de lei que tornava obrigatória a vacinação. Os efeitos da obrigatoriedade trouxeram revolta na população. Muitas propagandas julgavam a medida como uma violação da liberdade individual . A imprensa atiçava os ânimos, fazendo correr boatos de que a vacina, em vez de imunizar, provocaria a varíola.

Embora seu objetivo fosse positivo, novamente foi uma medida aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo ou mesmo que segurassem o braço das mulheres da casa para aplicação do medicamento.

Esta revolta também tinha um lado político. Civis e militares que, junto com Deodoro da Fonseca ajudaram na proclamação da República e participado nos primeiros anos de sua implantação tinham sido afastados pelas grandes oligarquias cafeeiras paulistas do Presidente Rodrigues Alves. Aproveitando o momento, usavam a vacinação e o medo da população, contra o governo. O articulado Centro da Classe Operária também organizava protestos contrários à vacinação, fundaram a Liga Contra a Vacinação Obrigatória que contou com o apoio de alguns militares.

As pessoas eram vacinadas mesmo contrariadas


Mas eram vacinadas....


A rebelião teve seu ponto máximo no dia 13 de novembro de 1904. A população tomou vários bairros na região central. Barricadas eram construídas nas ruas, bondes eram tombados. Oswaldo Cruz recebeu cartas anônimas ameaçando-o de assassinato, sua casa foi cercada e ameaçada de invasão, o que o forçou a fugir.
No dia 15, chegaram de São Paulo e Minas Gerais os batalhões para apoiar o Exército da República. O governo agiu rápido e com dureza. Tropas percorreram os cortiços, capturando não apenas os haviam participado do motim, mas todos aqueles encontrados desocupados. E enfiou-os, sem ouvi-los, em porões de navios, despachando  para o território do Acre que acabara de conquistar da Bolívia. A rebelião estava controlada, mas a população obteve sua vitória; estava suspensa a lei da vacinação obrigatória.
Com isso Oswaldo Cruz viu interrompida sua política de saneamento.
Este erro somente foi visto pela população 4 anos depois, quando uma nova epidemia de varíola se alastrou no Rio de Janeiro, atingindo aqueles que não foram vacinados., foram nove mil casos de varíola, com uma morte a cada 100 atingidos.


Aqui vai um vídeo muito gostoso sobre o tema, fiquei com vontade de conhecer este lado do Rio, mas será que ainda existe?

 




 
 
Para aqueles que gostaram deste assunto recomendo o blog: http://andyantunes.blogspot.com.br postagem do dia 16 de dezembro de 2011

Recomendo também o livro Nosso século Brasil 1900/1910, volume I editora Abril edição 1980.

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