terça-feira, 10 de abril de 2012

ENFIM ENCONTRANDO O CAMINHO CERTO....

TEORIA DOS MIASMAS

Se nos transportarmos ao século XIX e tentarmos pensar como as pessoas desta época, seria muito claro o entendimento de que o ambiente favorecia a transmissão de doenças. Conforme já tratado em postagem anterior, o "mal ar" ser o responsável  pela  malária, daí o nome desta doença. Assim nasceu a teoria dos miasmas.
Pela teoria dos miasmas, locais imundos, contendo  dejetos e lixos orgânicos em decomposição emanavam sustâncias invisíveis, mas nocivas e causadoras das doenças infecciosas e epidemias, impregnando o ar. Portanto, contraía-se a infecção apenas se respirar o ar que continha tais substâncias miasmáticas.  Iniciou-se um projeto de combate rigoroso à imundice das cidades, que incluía medidas para limpeza das ruas, drenagem de alagamentos, suprimento de água limpa e sistema de esgotos.
Hoje entendemos que a teoria dos miasmas estava parcialmente errada. Assim a aquisição de infecções sob a forma de contágio pessoa a pessoa ou através de vetores, ainda disseminaria muitas doenças, e esta teoria não explicaria estes fatos. Seria necessário inúmeras descobertas futuras para o entendimento dos agentes causadores das infecções, os germes. Porém a teoria dos miasmas foi importante no sentido de  melhorar as condições higiênicas da população.


GRANDES NOMES:


Ignaz Philipp Semmelvweis (1818 – 1865).
Médico que nasceu na Hungria e
ironicamente morreu de septicemia aos 47 anos.
 IGNAZ PHILIPP SEMMELWEIS
Os hospitais da época viviam com um grande problema; a febre puerperal.
Hoje sabe-se que, após o parto, o útero em fase de cicatrização, torna-se susceptivel  a infecções bacterianas, motivo pelo qual são realizadas todos os procedimento assépticos de uma cirurgia rotineira. Uma vez tendo acesso ao útero, as bactérias proliferam, causando a infecção, frequentemente disseminando-se pelo organismo e levando a morte.
Em emeados do século XIX, quando ainda não se tinha conhecimento da existência dos microorganismos, os partos começaram a serem realizados nos hospitais, até então ofício dedicado a parteiras e eram feitos sem nenhuma assepsia. A febre puerperal se dava pela utilização de instrumentos e roupas contaminadas pela própria manipulação dos médicos. Uma vez que as parteiras realizavam os partos na própria casa da parturiente, raramente ocorriam a evolução fatal da gravidez.
Em média, a cada 10 partos hospitalares, morria uma paciente de febre puerperal.
Em 1846, o médico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis iniciou-se no Hospital Geral de Viena para trabalhar como assistente na maternidade do professor  Johan Klin, uma das maternidades, a outra era do professor Barth.
Num dos seus plantões, Semmelweis surpreendeu-se com o pânico de uma gestante que se recusava a internar-se na maternidade do professor Johan Klin, suplicando para ser transferida para a maternidade do professor Barth. Semmelweis tomou conhecimento de que ir para aquela enfermaria era o caminnho para a morte por febre puerperal.
Em maio do mesmo ano, Semmelweis deparou-se com a assustadora taxa de mortalidade: 96% - relativo às mulheres que haviam se internado na enfermaria, enquanto que a clínica do professor Barth tinha um índice 4 vezes menor. Tais dados levaram a procurar diferenças entre os serviços prestados pela duas enfermarias.


Figura 3: Semmelweis e a queda na mortalidade materna após a lavagem das mãos
fonte:http://www.ccih.med.br/semmelweis.html

A única diferença significativa que Semmelweis encontrou dizia a respeito do profissional que examinava as parturientes; enquanto que na enfermaria de Semmelweis, quem fazia os partos eram os estudantes de medicina e na enfermaria do professor Barth eram as parteiras. Assim Semmelweis afastou os alunos e obteve menores taxas de infecção puerperal, mas não encontrava explicação para estes resultados. Até que um dia um  colega Kolletschaka,  professor de medicina legal, se feriu com bisturi ao realizar uma necropsia. O ferimento progredia, debilitando a saúde do professor, que apresentava os mesmos sintomas da febre puerperal, até morrer. Semmewelis constatou que a causa da morte de seu colega  era a mesma da febre puerperal, e esta foi atribuída ao ferimento usado nos cadáveres.
Finalmente, Semmelweis entendeu que o agente proveniente do material cadavérico quando introduzido no organismo humano causava a doença. Só restava relacionar esta hipótese como os estudantes de medicina:
Antes de iniciarem suas atividades na enfermaria, os alunos dissecavam cadáveres na aula de anatomia. Após a dissecação, eles lavavam as mãos com água, enxugavam-nas em toalhas sujas e seguiam para o exame das parturientes, levando provavelmente a substância causadora da doença.
Assim Semmelweis começou a usar cloro nas lavagens de mãos. Os alunos e professores eram obrigados a imergir as mãos em bacia contendo e cloro, esfregando-as com areia depositada no fundo, para depois lavá-las com água e sabão, antes de examinar as parturientes. Assim a taxa de infecção ficou 10 vezes menor!


by Gregorio Calvi di Bergolo (1904-1994).
fonte: https://www.imss.org/shop/item.asp?ItemID=321

Mas ainda houve um surto de febre puerperal entre parturientes da mesma enfermaria.
Semmelwains notou que uma paciente desenvolveu a doença e que na verdade ela transmitiu para as outras parturientes. Assim ficou provado que não era só o material originado dos cadáveres que causava a febre, mas também poderia ser transmitido de doente para doente. Assim Semmelweis determinou que todos os médicos deveriam repetir o procedimento de lavagem de mãos não somente quando entravam na maternidade, mas a cada paciente examinada.
Hoje as explicações e conclusões de Semmelweis parecem óbvias,  mas não para os médicos da época. O diretor do hosptial não aceitava as medidas defendidas por Semmelweis e não concordava com as teorias, assim como vários médicos importantes da época. Semmelweis não obteve êxito em impor sua descoberta aos acadêmicos. Suas medidas não foram aceitas durante anos, até que em 1850, ele retornou para Hungria, onde morreu no anonimato em 1865. O trabalho de Semmelweis era perfeito mas cedo demais para uma época em que a teoria dos miasmas era ainda muito forte no meio médico.



Luis Pasteu (1822-1895)
Químico francês
 LOUIS PASTER:
Terminada as guerras napoleônicas, a França entrou numa fase de desenvolvimento  econômico com a industrialização.
Foi nesta realidade que o Sr. Bigo industrial da Lille, começou a ter problemas com suas indústrias de produção de álcool, obtido através da fermentação da beterraba. O álcool produzido estava ficando com odor fétido e gosto ácido. Bigo contratou o professor de química Louis Paster, que já era famoso por utilizar o microscópio para analisar reações químicas.
A fermentação era a processo utilizado desde a Antiguidade pelos egípcios na produção de cerveja.
Pasteur improvisou um laboratório nas adegas do Sr. Bigo e, com auxílio do microscópio, observou que, quando a fermentação é bem sucedida seres microscópicos (hoje denominadas de leveduras) adquirem formato arredondado, nas mal sucedidas, o formato é alongado. Ele descreveu em 1858, a reação como fornecimento de  nutrientes para uma forma de vida microscópica: a levedura, a fim de que esta forme álcool ou ácido. Explicou que a produção errada na fermentação resultava em  ácido e se devia a contaminação do procedimento pelas formas alongadas, orientando a evitá-las. E concluiu que essa contaminação se dava pelo ar, meio pelo qual estes microorganismos ficavam suspensos.

Pasteur’s work at Lille
fonte:http://www.lifesciencesfoundation.org/events-Pasteur_in_Lille.html

Pasteur também estudou o odor rançoso na manteiga, devido a  formação de ácido butírico e descobriu organismos móveis que os batizou de vibriões bútíricos.
Ainda contribuiu na indústria de produção de seda, no combate a uma doença que estava acomendo o bicho da seda e também na indústria de fabricação de vinho. Ainda criou o método para evitar a contaminação por estes seres indesejáveis: consistia no aquecimento do produto a 60ºC ou 100º, método que ficou conhecido como "pasteurização"
Começava assim a era da bacteriologia. Começara assim a guerra contra a teroria dos miasmas.


Joseph  Lister (1827-1912)
Cirugião Inglês
JOSEPH LISTER
Na cidade de Glasgow, Inglaterra, o cirugião Joseph Lister, se preocupava muito com os pacientes que atendia por causa de fratura exposta, aquelas em que o osso entra em contato com o ar. Pois já previa a grande possibilidade de putefração do tecido, infecção, perda do membro e morte, ao contrário de quando a fratura não era exposta, que apresentava boa evolução. Ele estava correto nos prognósticos só não sabia o por quê.
Em 1865, Lister tomou conhecimento de diversos relatórios de Pasteur sobre a quimica fermentativa onde demonstrava o papel do ar como transmissor de germes. Assim responsabilizou os germes presentes no ar, como principais agentes de putrefação dos tecidos e começou a investigar substâncias que poderiam matar estes germes.
Em agosto daquele mesmo ano, Lister teve a oportunidade de testar suas teorias; tratou uma ferida  de fratura exposta com água contendo ácido fênico e nos dias seguintes fez curativos periódicos com algodão e ácido fênico. O resultado foi excelente com evolução para a cura.
Em 1867, foi mais além, operou um paciente para tratar uma fratura mal consolidada; abriu a pele e expôs o osso para correcção, e tratou os curativos com ácido fênico; o resultado foi o sucesso total.

Joseph Lister iniciou o uso de técnicas antibactericidas em hospitais, incluindo o uso de desinfectantes em forma de spray durante as cirurgias
fonte: http://www.corbisimages.com/stock-photo/rights-managed/E266/illustration-of-joseph-lister-using-carbolic-spray



A Europa tomava conhecimento da anti-sepsia e cada vez mais se fechava o cerco às bactérias como causadoras das infecções. Lister foi, posteriormente, considerado a grande responsável pela introdução da anti-sepsia.



 Pasteur (1822-1895) e Lister (1827-1912) recebendo honras em Sorbonne  Paris. Pela contribuição aos métodos de esterilização.  Original painting by Gregorio Calvi di Bergolo (1904-1994).
fonte https://www.imss.org/shop/item.asp?ItemID=320






Florence Nightingale (1820-1910)
Enfermeira Italiana

FLORENCE  NIGHTINGALE
Em 1854 inicou-se a Guerra da Criméia: Com a invasão pela Rússia dos territórios da Moldávia e Valáquia pertencentes ao Imperio Otomano, vários Estados se colocaram ao lado dos turcos, envolvendo-se na guerra a França, a Grã-Bretanha, a Áustria e a Sardenha.
Duas participações foram importantes nesta guerra: as enfermeiras para tratamento dos soldados feridos e correspondentes de noticiários como os jornais ingleses que publicavam o número de militares mortos, principalmente nos hospitais, estes relatos causavam verdadeira fúria na população. Os jornais relatavam a negligência com os feridos e ressaltavam as diferenças entre cuidados dispensados aos doentes pelos franceses. e pelos britânicos Muitos clamavam pelo dever das mulheres a viajar e cuidar dos soldados feridos, senão por obrigação  pelo menos por piedade.
O govenro inglês então, enviou um grupo de enfermeiras chefiadas por Florence Nightingale, para auxiliar nos hospitais dos acampamentos .



 Florence embarcou para a Crimeia com 38 auxiliares: 10 freiras católicas, 8 irmãs de caridade da igreja anglicana, 6 enfermeiras do Instituto St John e 14 outras voluntárias de vários hospitais. Ela ficou conhecida como " Dama-Chefe
fonte:http://eportuguese.blogspot.com.br/2010/07/florence-nightingale.html


Florence coordenou a reforma no superlotado hospital britânico improvisado na guerra. Montou cozinhas para preparação de alimentos, instituiu talheres, pratos e bandejas para as refeições, onde anteriormente eram feitas com as mãos. Introduziu escovas para a limpeza do hospital e os doentes passaram a ter roupas de hospital limpas com a criação de lavanderias, o banho se tornou obrigatório.
A dedicação de Florence e sua equipe causou uma enorme queda na taxa de mortalidade: de 427 para 22 óbitos em cada mil pacientes.


Assim que os soldados britânicos chegaram à Turquia, foram acometidos de cólera e malária. Dentro de algumas semanas um número estimado de 8.000 homens estavam enfermos
fonte:http://eportuguese.blogspot.com.br/2010/07/florence-nightingale.html





Robert Koch (1843-1910)
Médico alemão
ROBERT KOCH
Na década de 1870 duas escolas contibuíram para a consolidação do papel das bactérias como causadora das doenças infecciosas: a escola alemã de Robert Koch e a escola francesa de Louis Parteur.
Ambas as escolas estudavam a doença do carbúnculo, ou anthrax,  que matava os animais bovinos, caprinos e equinos.
Robert Koch montou um laboratório em sua própria casa e iniciou seus trabalhos sobre o anthrax. Deu sequencia aos estudos de Casimir Davaine feitos em 1850.
Davaine encontrou no sangue de carneiros mortos grandes quantidades de filamentos em forma de bastonetes. Daivane inoculou estes filamentos em animais sadios e constatou que estes adquiriram o anthrax.
Robert Koch queria provar que os bacilos descobertos por Davaine, eram os responsáveis pela doença. Para tal seria necessário isolá-los, provar sua capacidade de reprodução e então, por inoculação, constatar o surgimento da doença.
Koch trabalhou na criação de métodos de cultura que reproduzissem o agente. Um dos que desenvolveu consistia em uma gota de nutriente entre duas lâminas com o sangue infectado, assim documentava a reprodução do bacilo ao microscópio. Após diluir o líquido, Koch o inoculava novamente na cultura e repetia esse procedimento várias vezes, certificando-se de que os outros elementos  do sangue tinham sido eliminados, permanecendo apenas o bacilo anthrax, por se multiplicar. Com a inoculação do bacilo isolado, reproduziu  a doença e conseguiu provar a causa do anthrax,  publicando seu trabalho em 1876.
Assim Koch criou postulados para provar a relação de causa e efeito entre agente e doença:

* O agente causal deve estar presente em todos os casos de doenças
* O agente causal deve ser isolado do hospedeiro e crescer fora dele, "in vitro".
* O agente, uma vez isolado, deve causar doença em um organismo sadio.
* Este mesmo agente deve ser novamente isolado do organismo antes sadio.


Postulados de Koch
fonte: http://magicnumbers-parussolo.blogspot.com.br/2011/06/epidemiologia.html

Cabe aqui comentar sobre a mente inquieta de Pasteur.
Pasteur interessou-se pelos trabalhos de Koch com o anthrax e queria descobrir como era transmitida.  Acrescentou o bacilo ao alimento do gado, mas não conseguiu reproduzir a doença. Em seguida, adicionou-se ao alimento algumas folhas e gravetos  que causam trauma e arranhões na mucosa oral do gado, e com isso obteve o surgimento do anthrax. Estava assim comprovado que o anthrax ocorria pela presença do bacilo no pasto e que penetrava nos animais em sua mucosa oral.
Pasteur acreditava que o fato dos animais mortos serem enterrados no mesmo campo em que o gado sadio pastava, estabelecia algumas condições para a transmissão; o bacilo do anthrax deveria ser transportado dos animais mortos para as folhagens do pasto, causando a doença, porém, de que forma saía do fundo da terra não se sabia. Ele finalmente fechou o ciclo de transmissão da doença ao examinar o intestino das minhocas e comprovar a existência de esporos do bacilo. Era a minhoca que removia a terra e, pelas galerias que criava  levava o bacilo dos animais mortos para a superfície. Finalizando os trabalhos, Pasteur pôde formalizar seu relatório ao Ministério da Agricultura e orientar os fazendeiros sobre as medidas para evitar o anthrax: enterrar animais mortos longe da região de pastagens e afastar o rebanho de alimentos capazes de causar traumas.



EM RESUMO:

Os trabalhos de Koch e Pasteur foram somatórios,esclarecendo pela primeira vez, o agente causador, o mecanismo de transmissão da doença e as medidas profiláticas.
Explicavam  os fatos que a teoria dos miasmas não conseguia.
Estavam abertas definitivamente as portas para a aceitação definitiva dos agentes infecciosos como causadores das doenças.
A terioria dos miasmas cairia por terra, era uma questão de tempo...




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