segunda-feira, 16 de abril de 2012

ENQUANTO ISSO NO BRASIL....

A EUROPA ESTUDA E PREVINE AS EPIDEMIAS, O BRASIL RECEBE AS EPIDEMIAS.

No século XIX, enquanto na Europa, grandes nomes discutiam como prevenir ou acabar com as epidemias, o Brasil preparava o terreno para recebê-las.
Em 1808, a corte portuguesa, com seus 10 mil a 15 mil integrantes, chegava no Rio de Janeiro,escoltada pela Inglaterra,  fugindo das tropas de Napoleão.
Com a chegada da corte, e o aquecimento dos negócios da colônia, o tráfico aumentou de forma exponensial: o número de escravos desembarcados  no Rio saltou de 9689 em 1807 para 23230 em 1811. A média anual de navios negreiros atracados no porto também aumentou: de 21 no período anterior a 1805 para 51 depois de 1809. Os navios negreiros despejaram no principal mercado negreiro do Valongo, por ano, cerca de 18.000 a 22.000 negros, entre homens, mulheres e crianças.

Mercado do Valongo - 
Jean Baptiste Debret

Entre os séuclos XVI e XIX, cerca de 3,6  milhões a 4 milhões de escravos africanos entraram no Brasil, o maior importador das Américas. .
A cidade transformou-se no coração do Império, centro político e econômico. Tornou-se escala obrigatória de embarcações e líder mundial na produção de café em 1835.

A colheita de café por Candido Portinari
Inglaterra, em franco desenvolvimento industrial, com o interesse em aumentar seu mercado consumidor, fazia grande pressão no sentido de proibir o tráfico negreiro, o que foi oficializado em 1831.
É aprovada na Inglaterra a lei conhecida como Bill Aberdeen, que dava direito a Marinha de Guerra britânica prender navios negreiros no Atlântico e julgar seus tripulantes. Mas para o Brasil tal era muito difícil privar o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, do ingresso de escravos.
Em função da ilegalidade do tráfico, as condições dos escravos ficaram muito piores que antes. Navios não apropriados eram utilizados para burlar o patrulhamento britânico na costa brasileira. Eram navios menores e com carga máxima. Em terra os cativos permaneciam em mercados clandestinos, nus, para o comércio.  Não existiam medidas sanitárias e, consequentemente, houve aumento das epidemias na cidade, disseminadas pelos negros que eram descarregados no litoral da província, clandestinamente.

FONTE: http://marconegro.blogspot.com.br/
Entre 1831 e 1855 entraram cerca de setecentos mil negros, e com eles as epidemias.
O Rio de Janeiro, entre 1821 e 1849,  tornou-se uma verdadeira cidade africana: dos 266 mil habitantes, 110 mil eram escravos. Para cada 3 brancos existia um escravo. Em toda história da humanidade somente a Republica de Roma no século I a.C., dispôs de tantos escravos: três escravos para cada cinco homens livres. A cólera e a febre amarela eram ameaças reais que não tardariam a chegar.
Não havia sistema de esgoto. Os escravos levavam os dejetos humanos em recipientes  para as praias. Aqueles moradores que não dispunham de escravos, jogavam estes dejetos nas ruas, durante a noite, pelas janelas.
Os escravos eram proibidos de usar calçados, mantendo contato direto com os dejetos humanos.  No verão, com as chuvas, começavam as doenças febris e as famílias mais abastadas passavam férias em cidades mais afastadas como Petrópolis.


FEBRE AMARELA AJUDOU NA PROIBIÇÃO DO TRÁFICO NEGREIRO

No final de 1849, aconteceu o inevitável; a chegada da febre amarela ao Brasil. No Rio de Janeiro e na Bahia, já fervilhava o mosquito transmissor o famoso Aedes aegypti. Faltava apenas a chegada do vírus, abundante no Caribe.
Um embarcação procedente da cidade de Nova Orleans, fez o escala em Salvador e no Rio de Janeiro, onde desembarcaram doentes com febre amarela. Esse foi o provável encontro do vírus com os mosquitos já existentes na cidade, do qual resultaram os primeiros casos da doença.
Com a chegada do verão de 1850, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma epidemia da doença em consequência da proliferação dos mosquitos. Aproximadamente um terço da população foi acometida. Apesar de o número oficial de óbitos ser 4.160, acredita-se que tenha sido maior, atingindo a casa de dez mil a 15 mil, pois no início o governo proibiu a notificação, temendo o pânico na população, além das mortes que ocorreram em casa. A doença permaneceu endêmica e eclodia a cada época de chuvas, aumentado cada vez mais.
Em até 1890 morriam cerca de  mil pessoas a cada verão no Rio de Janeiro.
Comissões eram formadas por profissionais da área para estudarem as prováveis causas das epidemias. Mas estas ainda estavam muito presas a teoria dos miasmas, e também ainda mais ultrapassada, a teoria religiosa de que tudo era castigo divino pelas imoralidades que reinavam no Império.
Os médico brasileiros levantaram a tese da importação de "venenos" por meio dos navios negreiros, estabelecendo um vínculo direto do tráfico com a epidemia.
Discutia-se então a teoria de que as condições insalubres dos escravos nos "tumbeiros" propiciava o aparecimento do "veneno", que por sua vez, ocasionava a febre amarela. E o fato dos negros serem menos acometidos por já estarem "acostumados" com a doença. O que é verdadeiro se pensarmos em "veneno" como o agente causal e em "acostumados" como a aquisição de imunidade.
O ano de 1850 marcou o fim definitivo do tráfico de negros clandestinos africanos.
Com o crescimento das exportações de café, em pouco tempo, esse número de escravos não seria mais suficiente. Estavam abertas as portas para a política de imigração de estrangeiros para a cafeicultura...


A FEBRE AMARELA AGORA ACOMETE A  IMIGRAÇÃO

Com a fim do tráfico negreiro, os cafeicultores precisavam de mão de obra barata, independente da raça, para as fazendas de café. Por outro lado a burocracia intelectualizada queria, com a imigração, "embranquecer a raça". Para isto era necessário a imigração de uma raça específica, a européia.

  • Na pintura, há uma negra com as mãos para o céu, agradecendo o fato de seu neto ter nascido branco, visto ser fruto da relação de um homem branco com uma mulher mestiça.
    O artista soube captar perfeitamente o desejo elitista de embranquecimento da população. 

Após a saturação da plantação de café no Rio de Janeiro, o cultivo se voltou para o interior paulista.
Iniciou o desenvolvimento de São Paulo com as plantações de café e a construção das ferrovias, o lucro era empregado na urbanização e industrialização do estado. Era necessário, cada vez mais, a mão de obra dos imigrantes. Estes tinham suas passagens de navio subsidiadas, assim como alojamento e o transporte até as fazendas de café.
Eram construídas hospedarias para abrigar o número crescente de europeus provenientes do porto de Santos, onde aguardavam até serem encaminhados para o interior de São Paulo. A maior hospedaria  foi construída no Bairro do Brás e abrigava quatro mil pessoas.




Ao desembarcar no porto de Santos, os imigrantes eram encaminhados para a Hospedaria de Imigrantes, no Brás. É o caso desse grupo de portugueses, que chegarma ao Brasil em 1938. Daí eram enviados para seu destino nas fazendas de café do interior do estado. Hoje o prédio abriga o Museu do Imigrante. (Memorial do Imigrante)
fonte: http://www.aticaeducacional.com.br


Em 1887 entrou no Brasil cerca de 32 mil europeus, e 92 mil em 1888. Em 1900, no auge das exportações de café, o número de imigrantes já seria de um milhão.
Um dos principais  fatores desfavoráveis à política de imigração eram as doenças infecciosas no Brasil, principalmente a febre amarela.
Os imigrantes chegavam ao porto de Santos, se aglomeravam em hospedarias que abrigava, muitas vezes mais do que o dobro da sua capacidade, e  aguardavam transporte para o interior de São Paulo. Ficavam então sujeitos a contrair febre amarela, pois, como esta doença era rara na Europa, não tinham imunidade e acabavam morrendo em terras brasileiras.
A febre amarela era um terror tanto para os imigrantes quanto para os fazendeiros. Entre 1895 e 1897, foi a doença que mais matou, responsável por 36% do óbitos.
Além das condições insalubres nas hospedarias, um outro grande problema enfrentado por essas pessoas foram as  más condições a que os cafeicultores, acostumados ao trato com escravos, as submetiam. Elas não contavam com sistema de saúde adequado, ficavam em alojamentos precários nas fazendas, sua jornadas de trabalho eram longas, a alimentação deixava a desejar.
Em 1902, a Itália proibia a população de emigrar para o Brasil. Em 1908 foi a vez da Espanha. Os cafeicultores paulistas forçaram a República a liberar a imigração de outras raças consideradas muito diferentes da nossa, e assim foi permitida a entrada de japoneses em 1908.


 O INÍCIO DOS CORTIÇOS

Na década de 1850, proliferavam os cortiços nas grandes cidades do Império, principalmente no Rio de Janeiro, como forma de habitação das classes de renda baixa. Os cortiços eram galpões de madeira subidivididos internamente e alugados por seus proprietários, geralmente um português dono de armazém próximo ou até um membro da aristocracia. Quanto mais ocorriam alforrias de escravos e quanto mais imigrantes pobres chegavam, mais os cortiços se expandiam, por abrigar uma população sem condições de pagar os aluguéis elevados. Esta situação  atraía as doenças infecciosas e as crianças eram as principais vítimas. Nesses aglomerados reinava a tuberculose, difteria e escarlatina.
Em 1889 a tuberculose passou a ser a principal causa de morte das pessoas pobres. Como não acometia os imigrantes, não era combatida com tanta ênfase quanto a febre amarela.
De certa forma os cortiços contribuíram para a eclosão da tuberculose nos principais centros.
A tuberculose, difteria e escarlatina acometiam a população empobrecida dos cortiços e não traziam maiores consequências à política de imigração, ao contrário da a febre amarela, que acarretava problemas.
A febre amarela atrapalhava muito a política de imigração, chegando a ameaçar a produção da maior fonte de renda do Império, o café. Com isso, iniciou-se seu combate. As outras epidemias que acometiam a população pobre, contudo ficavam em segundo plano.
Com a criação da Junta Central de Higiene, e a teoria dos miasmas, ainda muito forte, iniciou-se a perseguição dos cortiços, sujos e com grande aglomeração populacional.
Iniciava-se a proibição à construção de cortiços sem a aprovação do Governo, assim como a fiscalização de latrinas, manutenção de limpeza e recolhimento dos excremento, a perseguição aos cortiços e a expulsão dos seus moradores da cidade e com eles a classe mais pobre. Essas medidas se confundem, tendo um caracter mais social do que sanitário, beneficiando mais a política de "embranquecimento da cidade", do que erradicando as doenças.
Uma drástica medida  foi em 1893, quando a presença de tropas no maior cortiço do pais, o Cabeça de Porco, onde abrigava cerca de quatro mil pessoas, foram obrigadas a deixar o lugar, carregando seus pertences. Muitos dos que foram desalojados construíram moradias ao pé dos morros e, sem mais lugar, começaram a subida que terminaria compondo as favelas atuais da cidade do Rio de Janeiro.


Entrada principal do Cortiço Cabeça de Porco.Con D''Eu, marido da Princesa Isabel, era o dono do Cabeça de Porco.
fonte: http://sul21.com.br/jornal/2012/02/lembrando-o-cabeca-de-porco-em-tempos-de-pinheirinho/



"Era dia 26 de janeiro de 1893, por volta das seis horas da tarde, quando muita gente começou a se aglomerar diante da estalagem da rua barão de São Félix, nº 154. Tratava-se da entrada principal do Cabeça de Porco, o mais célebre cortiço carioca do período: um grande portal, em arcada, ornamentado com a figura de uma cabeça de porco, tinha atrás de si um corredor central e duas longas alas com mais de uma centena de casinhas. Três dias antes os proprietários do cortiço haviam recebido uma intimação da Intendência Municipal para que providenciassem o despejo dos moradores, seguido da demolição imediata de todas as casinhas. A intimação não fora obedecida, e o prefeito Barata Ribeiro prometia dar cabo do cortiço à força. Às sete horas e trinta minutos da noite, uma tropa do primeiro batalhão de infantaria, comandada pelo tenente Santiago, invadiu a estalagem, proibindo o ingresso e a saída de qualquer pessoa 
Diante de tamanho aparato repressivo, todavia, não parece ter havido nenhuma resistência mais séria por parte dos moradores à ocupação da estalagem. Os trabalhadores começavam a destelhar as casas quando saíram de algumas delas crianças e mulheres carregando móveis e colchões e tudo o mais que conseguiam retirar a tempo. Terminada a demolição da ala esquerda, os trabalhadores passaram a se ocupar da ala direita, em cujas casinhas ainda havia sabidamente moradores. Várias famílias se recusavam a sair, se retirando quando os escombros começavam a chover sobre suas cabeças. Mulheres e homens que saíam dos quartos ‘estreitos e infectos’ iam às autoridades implorar que ‘os deixassem permanecer ali por mais 24 horas’. Os apelos foram inúteis, e os moradores se empenharam então em salvar suas camas, cadeiras e outros objetos de uso. Os trabalhos de demolição prosseguiram pela madrugada, sempre acompanhados pelo prefeito Barata. Na manhã seguinte, já não mais existia a célebre estalagem Cabeça de Porco."

CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das letras, 1996.



A CÓLERA CHEGA AO BRASIL

Enquando os habitantes do Rio de Janeiro ainda padecem com a febre amarela, a Europa vivia o auge da epidemia de cólera. De lá chegou ao Brasil em 1855, onde se espalhou pelo litoral. Agora os médicos seriam obrigados a tratar de mais uma nova doença.
Na Bahia,  com a população vivendo em condições muito precárias, morriam cerca de oito a dez por dia. Se a febre amarela acometia prinicipalmente os imigrantes e brancos a cólera não poupava os negros. A população mais carente, que vivia em precárias condições, era a mais atingida.
A Bahia perdeu cerca de 3,6% de sua população: 50% negros, 35% mulatos e 15% brancos. Pereceram grande número de lalvadeiras que trabalhavam nos riachos contaminados, lidando com roupas que continham dejetos humanos.
O Nordeste foi castigado; Paraíba perdeu 10% da população, Salvador 18%, Belém 4% e Pernambuco  cerca de 37 mil habitantes. A cidade do Rio de Janeiro enterrou 4.800 vítimas, metade delas, escravos.
Já que a medicina não podia explicar os fatos somente com a teoria dos miasmas, a Igreja encontrou terreno fértil, para explicar as doenças como castigo de Deus ao povo brasileiro, pelos pecados cometidos.
As pessoas passaram a frequentar mais a Igreja, os jornais anunciavam procissões e cortejos.
Esta grande epidemia de cólera mudou o hábito de enterrar os mortos em Igrejas. Interrava-se os mortos em Igrejas, para que estes ficassem mais perto dos vivos e das orações por sua alma..
Baseada na teoria dos miasmas, tal prática começou a receber críticas da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, na década de 1830. A decomposição do cadáver, poderia emanar substâncias miasmáticas  para a população. Era comum o corpo sepultado não estar devidamente vedado espalhando odores da decomposição. Os mortos portanto, deveriam ser enterrados em lugares distantes do núcleo urbano, para evitar os miasmas e à profundidade máxima. Estas medidas criaram revoltas principalmente na Bahia, opuseram-se a estas medidas as irmandades religiosas, os frades e a população que viu sua crença religiosa ameaçada, temendo ser sepultada longo do local em que foi batizada Este movimento ficou conhecido como Cemiterada.


Enterro de uma negra - (Pintura de Debret)
Os enterros eram feitos nas igrejas pois as pessoas acreditavam que morrer em terra firme e ocupar um túmulo em lugar sagrado representava o verdadeiro “descanso em paz”. A igreja era vista como um pedaço do céu na Terra. Ocupar uma cova no interior de um espaço sagrado era uma forma de manter os mortos em contato com o mundo dos vivos, sendo sempre lembrados pelos freqüentadores das igrejas em suas orações.  Os locais dos túmulos eram devidamente escolhidos de acordo com o poder aquisitivo do morto, aqueles que tinha dinheiro para serem enterrados próximo do altar significava estar mais próximo de Deus.
fonte: http://ferreiragomes.wordpress.com/ disponível em 17/04/2012










Nenhum comentário:

Postar um comentário