sexta-feira, 27 de abril de 2012

AS EPIDEMIAS QUE INFLUENCIARAM OS RUMOS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA.




O INICIO DA PRIMEIRA  GRANDE GUERRA.

Ao final do século XIX o cenário mundial era:
O mundo era dominado pela Europa: Alemanha, Inglaterra e França, como potências, disputando mercados econômicos. A maior parte da frota mundial de navios mercantes ou de guerra, navegava sob as bandeiras destes 3 impérios. A maioria das estradas de ferro e linhas telegráficas era dominada pelos europeus. A quase totalidade da África e praticamente todas as ilhas do Pacífico estavam sob domínínio europeu. Na Ásia, os únicos grandes países não subjugados pela Europa eram a China e o Japão.
O império britânico e a China tinham cada um, 400 milhões de habitantes, abrigando em conjunto metade da população mundial.
A Europa passava agora por um sentimento sempre combatido pelas monarquias: o nacionalismo. As guerras napoleônicas acabaram, mas, por todo lugar que passaram,  deixaram forte devoção de idéias, tornou a massa coletiva cada vez mais nacionalista. Aos poucos, alianças eram formadas:  estabeleceu-se  de um lado a união de Rússia , Inglaterra e França e de outro lado Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália.
fonte: http://oficinadegerencia.blogspot.com.br postagem do dia 18/10/2011
disponível em 02/05/2012

No início do século XX, vários pequenos conflitos internacionais foram se intensificando e, consequentemente, as nações se fortalecendo militarmente. Nem a Igreja Católica conseguira diminuir a tensão. O papa Leão XIII era provavelmente a pessoa mais influente do mundo, em tempos de paz, mas quando uma guerra importante envolvia grandes potências, ele não era mais influente que um arsenal bélico, e principalmente, ao fato de que três grandes potências econômicas: Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha eram protestantes, não católicas.
O motivo para o início da Primeira Guerra Mundial ocorreu em junho de 1914, com o assassinato do sucessor ao trono Austro-Húngaro Francisco Ferdinando em território da Bósnia. O Império atribuiu a autoria do crime ao movimento nacionalista da Sérvia e declarou guerra a esta nação.
A guerra começou em 28 de julho de 1914. Nos sete dias seguintes, aliados se juntaram aos dois países. A Alemanha lutou ao lado da Áustria. França, Rússia e Grã-Bretanha formaram outra aliança.
Assim, o Império Austro-húngaro iniciou  ataque a Sérvia. Dentro de uma semana cinco potências e diversas outras menores estavam lutando ou prestes a lutar. Países expectadores escolhiam a melhor hora de entrar no conflito. No primeiro mês o Japão se posicionou contra a Alemanha empregando sua frota marítima. Em novembro os turcos juntaram-se aos alemães, e no mês seguinte a Itália. Quanto mais países entravam no conflito, mais difícil se tornava a tarefa de reunir todos para uma negociação de paz. O patriotismo tornou-se agressivo, até nas Igrejas os sermões   pregavam um nacionalismo exacerbado.
Nesta guerra, diferentemente das anteriores, não era mais necessários pessoas para cultivar e levar alimentos, assim poderia dispor de um maior "patrimônio humano" para as batalhas. As nações européias obrigavam quase todos os homens jovens ou de meia idade a passar por um treinamento militar. As mulheres poderiam ser transferidas para as fábricas de munições. Nas guerras napoleônicas um país podia dispor de 12% da sua população, agora o mundo poderia usar 50% para trabalhar para a guerra.



UMA DAS PRINCIPAIS BATALHAS: A BATALHA DE GALLIPOLI.

Na península turca de Gallipoli se localiza na entrada do estreito de Dardanelos. Local extratégico  com apenas 7 km de extensão, liga  o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro,  sendo portanto de fácil controle. Antes da guerra, a Alemanha, visando o estreito de Dardanelos, assina secretamente,  uma aliança militar com a Turquia. Dardanelos era de extrema importância para a Rússia, pois era a rota que levava suprimentos para seus exércitos. Além do que, o Mar Negro estaria protegido dos temidos submarinos alemães, cuja entrada seriam mais fácil de ser controlada pele estreito de Dardanelos.

Estreito de Dardanelos

A Rússia tinha abundância em soldados, mas escassez terrível em armamento pesado e até mesmo em uniformes para o frio. O exército russo se comparava a um grande rolo compressor, mas este rolo precisaria de suprimentos para mover-se e afastar as centenas de soldados alemães nas fronteiras.
Assim o estreito de Dardanelos se tornou crucial. A Grã-Bretanha, com toda sua força naval, se voltou para este local.
Em 25 de abril de 1915,  as forças britânicas, francesas, australianas e neozelandesas chegaram ao litoral da turquia na Península de Gallipoli e montaram uma perigosa base de operações perto de Dardanelos. O número de mortos e feridos foi grande . Os turcos estavam sob grande pressão; de um lado as forças anglo-francesas e de outro os exércitos russos, mas contavam com fortalezas e abastecimento terrestre contínuo, Depois de lutar contra os turcos cavando trincheiras e enfrentando terrenos e vegetação hostil, os britânicos e franceses concluíram que a vitória no Dardanelos era impossível.



A DISENTERIA INFLUENCIANDO OS RUMOS DA  BATALHA DE GALLIPOLI

Batalha anteriores foram o aprendizado de como de evitam baixas por infecções nas trincheiras. Já era conhecido a presença de seres microscópios que causavam doenças, bem como várias técnicas para evitá-los ou tratá-los.  Os “pé-de-trincheira” era tratado purificando a água com cloro, fumigando roupas e assegurando banhos regulares durante os rodízios fora da linha de frente. Vacinas evitavam o tétano e, para a gangrena gasosa, havia o “líquido de Dakin”, um antisséptico desenvolvido por um químico britânico e por um cirurgião franco-americano,  mas a era dos antibióticos só chegaria na Segunda Guerra Mundial.
A epidemia não seria mais o principal fator para definir o resultado de uma batalha, mas ainda era um grande aliado para aqueles que, de certa forma, se encontravam protegidos dela.
A disenteria amebiana, embora comum no norte da África, não tinha atingido a Europa até o verão de 1915, quando de espalhou nas trincheiras de Gallipoli. A maior parte dos soldados britânicos, que lá se encontravam foi infectada, pois a doença se espalhava através de larvas de moscas. Foram mais de 120.000 baixas. A disenteria foi um dos fatores decisivos no fracasso da campanha de Gallipoli. Ao final do ano de 1915, os exércitos britânicos e franceses foram abandonado o local . Se tivessem conseguido dominar Dardanelos e Constantinopla, poderiam ter mandados comboios de suprimentos para o exército russo, e o resultada da guerra para a Rússia, bem como os caminhos que este país tomaram poderiam ter sido muito diferente
.

Campanha de Galípoli, Abril 1915.
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Campanha_de_Gal%C3%ADpoli
acessado em 11/05/2012
Relatos de soldados revelam obstáculos da invasão em Gallípoli – Do barco, marinheiro britânico conta como foi virar alvo dos tiros – No mar e na terra, uma amostra da resistência dos otomanos:
"Quando o senti o barco tocar em terra, corri em direção ao arame farpado na praia, locomovendo-me pela água que devia estar ainda a um metro de altura. Descobri que apenas Munsell e outros dois homens haviam me seguido. À direita de mim, em um rochedo, havia uma fileira de otomanos em uma trincheira, atirando em nossa direção. Olhei para trás. Uma fila de soldados encontrava-se disposta nas bordas da areia. O mar estava absolutamente vermelho, e era possível ouvir os gemidos em meio ao ruído da fuzilaria. Havia alguns poucos dos nossos atirando de volta. Eu os chamei para avançar. O soldado atrás de mim, porém, gritou: "Fui atingido no peito." Percebi então que todos haviam sido atingidos"
Fonte: http://historianovest.blogspot.com.br publicado em  3 de maio de 2012 acessado em 11/05/2012



E O TIFO REAPARECE...

A Alemanha era a maior produtora européia de produtos químicos,  máquinas operatrizes, de rolamentos, velas de ignição e munições óticas.  A Grã-Bretanha e a França, incapazes  industrialmente, precisavam importar muitos produtos dos Estados Unidos. Alemanha então passou a interceptar navios norte-americanos tanto de passageiros como cargueiros, com submarinos cada vez maiores. O ataque ao transatlântico Lusitânia, procedente dos Estados Unidos, lotados de mulheres e crianças, resultou em 1.198 mortes, resultou em grande revolta, este e  outros, motivaram os Estados Unidos a deixarem de ser uma nação neutra para entrarem na guerra.
O tifo não mais assustava o mundo há quase 100 anos atrás com o fim das guerras napoleônicas. Somente  Rússia apresentava a doença de forma endêmica, com noventa mil casos por ano. Mas qualquer situação de fome, guerra e aglomeração de pessoas poderia criar condições para  desencadear uma epidemia de tifo.
Em novembro de 1914, uma epidemia de tifo eclodiu entre os povos da Sérvia. Depois do ataque autro-úngaro, a população se encontrava em uma cidade em ruínas, sem locais para atendimento médico, vivendo em alojamentos improvisados e o agravante de  sessenta mil prisioneiros austríacos, muitos com tifo. Esses homens eram enviados a prisões da Sérvia em trens lotados. Os exércitos sérvios eram transferidos para áreas diferentes e a população peregrinava à procura de condições melhores de moradia.
No inverno de 1915  o tifo matou 150 mil pessoas, a ocorrência era de até seis mil mortes por dia, em diversas regiões da Sérvia, entre militares e civis. As operações militares da Sérvia foram suspensas para o combate ao piolho, já conhecido como agente da doença, mas não impediu a perda de 25% do exército sérvio. A guerra nesta fronteira ficou parada por 6 meses.
A Rússia sofreu várias derrotas na fronteira com a Alemanha e o Império Austro-Húngaro, sendo obrigada a recuar, perdendo territórios . Os soldados permaneciam nas trincheiras, onde a disseminadão dos piolhos os fazia ter mais medo do tifo do que da própria guerra. No primeiro ano do confronto, cem mil casos da doença ocorreram na Rússia, após as derrotas do ano de 1916, com o recuo do exército, o número de casos já atingia 150 mil. Mas seria entre os anos de 1917 e 1921, período Revolução Bolchevista que a Rússia  mais sofreria com as epidemias de tifo, registrando-se um total de trinta milhões de acometidos, e três milhões de mortes, uma das maiores epidemias da história e que, com toda certeza, ajudou nos caminhos políticos e econômicos tomados pela Rússia.

"Falta-nos praticamente tudo. Aprendi cedo a dependurar o pão num arame para o pôr fora do alcance dos ratos, a dormir com os sapatos apertados, porque tentar calçá-los depois de os tirar era uma ilusão, a dormir enrolado num capote molhado, dormir 4 horas no meio de algazarra, de gritos humanos, de cheiros pestilentos, mas a dormir." (Florent Fels, in Voilà)
fonte: http://parameusalunos.blogspot.com.br postagem do dia 04 de agosto de 2008
disponível em 02/05/2012


O FIM DO GRANDE CONFLITO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A expectativa seria de que a guerra iniciada em agosto de 1914, terminaria antes do Natal, previa-se a perda de um grande número de vidas, mas o conflito seria breve, com a ajuda de ferrovias, telégrafo e armas mais modernas, além do mais os sistemas bancários e financeiros não aguentariam sustentar uma guerra longa.
No entanto o conflito foi até o ano de 1918,  marcado por constantes derrotas da Alemanha e do Império Austro-Húngaro, e a saída antecipada da Rússia, enfraquecida pelos conflitos internos, e pelo tifo.  Finalmente, no final daquele ano, em 11 de novembro, foi assinado o tratado que colocou fim a Primeira Grande Guerra, o Tratado de Versales.
A paz havia finalmente chegado, era o que todas as nações desejavam mas em seus próprios termos.
Em Paris o tratado de "paz" insistia que a Alemanha foi a única culpada pela guerra. Assim os vencedores dividiram  a área central da Alemanha, tomaram todas as suas colônias, confiscaram sua marinha e ainda dispensaram seus exécitos além de imensa multa impostas como reparações da guerra.
Estas séries de exigências do Tratado de Versalhes, seriam responsáveis pela crise que precipitaria a Segunda Guerra Mundial anos depois.


sites consultados:
http://tmcr.usuhs.edu/tmcr/chapter19/intro.htm acessado em 11/05/2012
http://httpwwwyoutubecomwatchv3v1wwv.blogspot.com.br/ acessado em 11/05/2012

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NO BRASIL, NOBRES INTENSÕES, BEM CONVENIENTES E MAL INTERPRETADAS.

Ano de 1900, após o controle da peste em Santos, o momento agora era colocar ordem na casa e instituir uma política de saneamento básico, começando pelo Rio de Janeiro.
As cidades portuárias ainda se encontravam em condições precárias de saúde pública: favelas começavam a subir os morros, ruas sem calçamento, com o barro misturado à sujeira de animais e vegetais. As epidemias se repetiam todos os anos, principalmente  febre amarela, varíola, peste bubônica e cólera. Os navios estrangeiros faziam questão de anunciar que não parariam no porto carioca, admiravam de longe suas belezas naturais. No conceito internacional, o Rio de Janeiro era uma cidade linda, linda para se olhar, jamais para desembarcar nela. Na Europa, as boas companhias de viagem anunciavam em sua propagandas: "Trânsito direto para Buenos Aires, sem passar pelo Brasil e pelos perigosos focos de febre amarela da cidade do Rio de Janeiro". Este era o quadro que o Brasil passava para os outros países, alguma coisa deveria ser feita imediatamente.


Em nome saúde da cidade, o prefeito Pereira Passos quer
limpar o Rio de Janeiro, pra quem? Para a população
ou para a imagem da "Cidade Maravilhosa"!


Oswaldo Cruz participaria ativamente destas medidas. Suas intensões eram acabar com as epidemias. Seu desejo era o mesmo que o desejo dos governantes, porém as  intensões não eram as mesmas.
Os primeiros governos republicanos queriam transformar o Rio de Janeiro na "capital do progresso", uma espécie de cartão-postal que mostrasse ao país e ao mundo "o novo tempo" da República



Imagem do Rio de Janeiro, início do século XX, antes do projeto "Bota abaixo"

O maravilhoso Teatro Municipal foi construído,
uma das muitas obras influenciadas pelo estilo de Paris.
Mas não pensavam onde foram morar as milhares de pessoas
desabrigadas para as obras em estilo francês. Assim surgiram as favelas no morros...





Oswaldo Cruz foi então nomeado, em 1903, diretor da Saúde Pública do Brasil, sua meta inicial era acabar com a febre amarela. Organizou um sistema de saúde pública vinculada ao Poder Judiciário, para garantir que as medidas instituídas fossem obedecidas. A campanha foi montada como uma verdadeira operação militar. Oswaldo Cruz queria proteger a população. A maioria das pessoas não tinha conhecimento suficiente para entender a importância destas medidas, por isto ele optou por impô-las de uma maneira compulsória.

O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, como a derrubada de casarões e cortiços e o conseqüente despejo de seus moradores. A população apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares. Todas as áreas que eram foco do mosquito foram atacadas. Aterraram-se alagados, lixos foram retirados das ruas, cortiços demolidos. Combatia-se também a peste; pagava-se cerca de trezentos réis por cada rato morto que as pessoas entregavam aos agentes sanitários.

Estas medidas caíram principalmente sobre a classe mais pobre que foi retirada do centro da cidade, o que incitou movimentos de protestos.

No verão de 1904, nenhum caso de febre amarela ou peste bubônica foi registrado. As medidas adotadas surtiram efeitos benéficos e o trabalho de Oswaldo Cruz fora reconhecido.

Infelizmente o mesmo não aconteceu com a varíola. Como não era transmitida por nenhum animal ou inseto e os vírus só seriam descobertos ano depois disseminou-se de forma assustadora. No inverno de 1904 foram 3.566 mortes por varíola. Oswaldo Cruz intensificou a política de vacinação.

A vacina contra a varíola, graças aos esforços de D. João VI, já era obrigatória para crianças desde 1832. Mas esta lei nunca fora seguida pela população, sendo usada em larga escala pelos fazendeiros nos seus escravos.

No auge da epidemia de varíola em 1904, Oswaldo Cruz empreendeu sua campanha para a vacinação maciça da população. Em julho daquele ano, era aprovado um projeto de lei que tornava obrigatória a vacinação. Os efeitos da obrigatoriedade trouxeram revolta na população. Muitas propagandas julgavam a medida como uma violação da liberdade individual . A imprensa atiçava os ânimos, fazendo correr boatos de que a vacina, em vez de imunizar, provocaria a varíola.

Embora seu objetivo fosse positivo, novamente foi uma medida aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Os pais de família rejeitavam a exposição das partes do corpo ou mesmo que segurassem o braço das mulheres da casa para aplicação do medicamento.

Esta revolta também tinha um lado político. Civis e militares que, junto com Deodoro da Fonseca ajudaram na proclamação da República e participado nos primeiros anos de sua implantação tinham sido afastados pelas grandes oligarquias cafeeiras paulistas do Presidente Rodrigues Alves. Aproveitando o momento, usavam a vacinação e o medo da população, contra o governo. O articulado Centro da Classe Operária também organizava protestos contrários à vacinação, fundaram a Liga Contra a Vacinação Obrigatória que contou com o apoio de alguns militares.

As pessoas eram vacinadas mesmo contrariadas


Mas eram vacinadas....


A rebelião teve seu ponto máximo no dia 13 de novembro de 1904. A população tomou vários bairros na região central. Barricadas eram construídas nas ruas, bondes eram tombados. Oswaldo Cruz recebeu cartas anônimas ameaçando-o de assassinato, sua casa foi cercada e ameaçada de invasão, o que o forçou a fugir.
No dia 15, chegaram de São Paulo e Minas Gerais os batalhões para apoiar o Exército da República. O governo agiu rápido e com dureza. Tropas percorreram os cortiços, capturando não apenas os haviam participado do motim, mas todos aqueles encontrados desocupados. E enfiou-os, sem ouvi-los, em porões de navios, despachando  para o território do Acre que acabara de conquistar da Bolívia. A rebelião estava controlada, mas a população obteve sua vitória; estava suspensa a lei da vacinação obrigatória.
Com isso Oswaldo Cruz viu interrompida sua política de saneamento.
Este erro somente foi visto pela população 4 anos depois, quando uma nova epidemia de varíola se alastrou no Rio de Janeiro, atingindo aqueles que não foram vacinados., foram nove mil casos de varíola, com uma morte a cada 100 atingidos.


Aqui vai um vídeo muito gostoso sobre o tema, fiquei com vontade de conhecer este lado do Rio, mas será que ainda existe?

 




 
 
Para aqueles que gostaram deste assunto recomendo o blog: http://andyantunes.blogspot.com.br postagem do dia 16 de dezembro de 2011

Recomendo também o livro Nosso século Brasil 1900/1910, volume I editora Abril edição 1980.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

AS EPIDEMIAS QUE FINALIZARAM O SÉCULO XIX

                                
A FEBRE AMARELA NAS AMÉRICAS DO SUL E DO NORTE

As ilhas do Caribe, desde o século XVII, foram as principais concentrações do Aedes aegypti mosquito transmissor da febre amarela.
No início do século XIX, os Estados Unidos se lançaram num processo de aquisição de regiões mais ao sul, a fim de ampliar seu território. Assim, em 1803, compraram da França toda a área de Lousiana e em 1812 tomaram da Espanha as regiões da Flórida e do Mississippi.
O sul dos Estados Unidos tornou-se então uma região agrícola, mão de obra seria necessária para as plantações de algodão. Das ilhas do Caribe, começariam a chegar escravos e junto com eles a febre amarela.
Na segunda metade do século XIX, começaram as epidemias de febre amarela no sul dos Estados Unidos. A doença entrava pelos portos de Nova Orleans e Charleston, disseminando-se para o interior pelo rio Mississippi ou pela orla atlântica.
Em 1853 chegava em Nova Orleans a notícia da epidemia de febre amarela. O alarme provocou grande êxodo e a cada 10 habitantes restaram apenas 1 na cidade. Cerca de 50 mil moradores fugiram e nove mil morreram. A epidemia alastrou-se em direção norte, deixando um rastro de 11 mil mortos.
Vinte e cinco anos depois, Nova Orleans viveria uma segunda epidemia ainda mais assustadora. Um terço dos habitantes fugiu, cerca de 150 mil, e outros vinte mil foram acometidos. A epidemia disseminou-se pelo rio, atingiu duzentas cidades de oito estados diferentes. Um total de 20 mil mortos ocorreu em um ano.
Nesta época, o telégrafo já havia sido inventado, as mensagens eram transmitidas com mais rapidez, e junto com as recentes descoberta dos miccroorganismo, marcaram esta epidemia com atos  de violência. No ano de 1897, populações passaram a proibir a entrada de estrangeiros nas cidades, destruir pontes e estradas de ferro e construir barreiras.
Havia evidências suficientes para relacionar a febre amarela com as ilhas do Caribe. Em Cuba a doença já era endêmica. Em 1881, o médico biólogo cubano Carlos Juan Finlay, estudando a doença na ilha, publicou um artigo sugerindo que sua transmissão se dava pela picada do mosquito
Em 1898, as epidemias de febre amarela varreram o sul do país, obrigando o governo, por intermédio do médico Walter Reed, tomar providências urgentes na ilha de Cuba, invadida havia pouco tempo pelos Estados Unidos. Surgiu a primeira oportunidade para investigarem a doença



NA EPIDEMIA DA FEBRE AMARELA A OPORTUNIDADE PARA ENTENDER A DOENÇA.

Walter Reed,  foi encarregado de investigar a febre amarela em Cuba. Ciente dos estudos de Finlay, recrutava voluntários para testar sua teoria. Os voluntários eram submetidos ao contato com secreção de doentes. Dormiam em camas com sangue e e usavam as roupas dos enfermos. Como os voluntários não apresentaram nenhuma reação própria da doença, esses primeiros estudos mostraram que a febre não era contagiosa. Walter Reed, submeteu cinco militares americanos à picada do Aedes aegypti e constatou o início da febre amarela.


Pintura de Dean Cornwell mostrando o experimento realizado em 1900 por Walter Reed em Cuba, com os voluntários expostos aos mosquitos


Medidas foram adotadas para exterminar o mosquito, como a extinção dos criadouros em água parada. Os resultados foram excelentes. Em 1900, registraram-se mais de mil casos da doença, em 1901, apenas 37 e finalmente em 1902, ela estava extinta em Havana.


Pacientes com febre amarela em um Hospital em Havana
disponível em 20/04/2012



A TERCEIRA PANDEMIA DE PESTE BUBÔNICA

A epidemia de peste bubônica sempre foi das mais temidas. A cada surto ocasionava a morte de praticamente um terço da população da cidade, fuga em massa de habitantes apavorados e prejuízo comercial pelas medidas de quarentena e estagnação do comércio.
Foram 3 pandemias que acometeram a humanidade, cada uma delas iniciou e terminou inesperadamente.
A primeira epidemia, conforme relatado em postagem anterior, foi no século VI  em Constantinopla. Naquela época, a cidade desenvolvia e crescia, recebendo muitas embarcações vinda principalmente da Índia. Em uma destas rotas transportou ratos infectados. Durante 4 meses morriam, por dia, cinco a dez mil pessoas, no primeiro ano acredita-se que tenha morrido trezentas mil.
Oitocentos anos depois a peste ressurgia na Itália. A Europa tinha uma super população e enfrentava grande fome. A fragilidade da situação ajudou a segunda pandemia ser pior do que a primeira. A doença matou cerca de um terço da população em apenas 3 anos, cerca de 20 milhões de pessoas
Seiscentos anos depois a peste bubônica encontraria uma civilização com navios a vapor que atravessavam os oceanos. Desta vez a peste não ficaria somente no continente europeu, agora se extenderia também para o continente americano. Em contrapartida  a humanidade já contava com pessoas que não acreditavam mais que as epidemiras eram castigos de Deus...




DESPERTANDO O BACILO DA PESTE....

No início da década de 1800, Yunnam, uma  vila na região sul da China, longe do litoral, tinha uma população rural que vivia da agricultura auto suficiente e isolada do mundo em desenvolvimento. Junto com esta população o bacilo da peste bubônica vivia em equilíbrio. Quando surgia moradores acometidos com a peste, a comunidade tratava com ervas tradicionais, muitos se curavam, muitos pioravam. Não demonstrando sinais de melhora eram levados para locais desertos e afastados. Nessa região não havia rotas comerciais e a peste se manifestava de forma discreta longe do conhecimento do mundo.



 Yunnan, província no sudoeste da China, situa-se aos pés da Montanha do Dragão de Jade, que passa o ano inteiro cobertas de neve.
disponível em 20/04/2012
Hoje Yunnam é assim.....
 A China  do século XIX desfrutava de paz e tranquilidade, com a construção de palácios, bibliotecas, desenvolvimento da arquitetura, arte e educação. Mantinha relações muito fechadas com a civilização ocidental. Somente era permitido um porto comercial em Cantão. Europeus eram mutio descontentes com esta situação. Depois da revolução industrial, os ingleses precisavam mudar esta realidade, pois era necessário expandir seus produtos.

Porto de Cantão, em Macau. entreposto comercial na Ásia.
A China produzia e vendia, chá de qualidade,seda e porcelana, que eram apreciadas por toda Europa. Os ingleses compravam muito da China e os chineses não se interessavam pelos produtos da Inglaterra. Estima-se que no início do século XIX a China já contava uma população de cerca de 450 milhões de pessoas, um excelente mercado.
disponível em 20/04/2012


Ao final do século XIX, os ingleses, viram no descontentamento da população chinesa com o regime opressor do governo, uma oportunidade para penetrar naquele comércio tão fechado. A alternativa era oferecer um produto, que, por motivos óbvios, seria bastante consumido: o ópio.
O ópio procedia principalmente da Índia, era desembarcado dos navios ingleses no porto de Cantão e percorria as estradas para o interior até Yunnan.
Em 1838, a população sucumbia ao ópio, ricos e pobres se entregaram a droga, enormes quantidades de prata chinesa eram embarcadas nos navios ingleses.


Fumantes de ópio.
A China poderia se tornar o maior país do mundo – desde que se tornasse militarmente mais forte.  Perderam as Guerras do Ópio: a Inglaterra impôs que os chineses deixassem a droga ser vendida livremente no país. O ópio, produzido na Índia, era a espúria contrapartida que a Inglaterra encontrara para equilibrar seu comércio com a China, de quem consumia chá, seda e porcelana.)

Diante deste panorama o governo de Pequim proibiu o mercado e o consumo de ópio. Começara a primeira Guerra do ópio. Ao fim da guerra em 1842, o resultado foi a favor dos ingleses; a China foi obrigada a abrir mais portos, o vilarejo de Hong Kong foi cedido aos ingleses.
Yunnam não era mais o vilarejo isolado:  viciados e mercadores clandestinos transitavam da cidade para porto de Cantão. E o bacilo da peste não ficaria mais restrito somente naquele lugar.
O ano de 1850 foi marcado pela má safra da agricultura, fome e miséria, unido ao descontentamento da população, dando origem a uma guerra civil que duraria 14 anos. As migrações e fugas aumentaram, assim como o movimento de tropas,. Todos estes acontecimentos foram suficientes para inciar a terceira epidemia da peste negra.
Em 1894 a cidade de Cantão foi acordada  no dia 1º de maio com notícias da epidemia da peste. Somente nos meses de maio, junho e julho morreram setenta mil pessoas. Seria preciso conter a epidemia.



NA EPIDEMIA DA PESTE BUBÔNICA A OPORTUNIDADE PARA ENTENDER A DOENÇA:

A bacteriologia vivia sua fase ouro, no auge da descobertas dos microorganismos, a teoria dos miasmas era passado. Em algumas doenças, como tuberculose, pneumonia, cólera, difteria, pneumonia e escarlatina, já  tinham seus agentes identificados. A causa da peste ainda permanecia um mistério e agora seria a oportunidade para esclarecê-lo.
Chegou à Hong Kong em 1894, a equipe do Dr. Shibasaburo Kitasato, médico experiente da escola alemã de Robert Koch. Kitasato foi muito bem recebido pelas autoridades inglesas. Todas as condições para que ele descobrisse a bactéria da peste bem como seu controle foram atendidas.
Em junho do mesmo ano,  Hong Kong também receberia o Dr. Alexander Yersin, Médico do Instituto Pasteur.Yersin não encontrou a mesma hospitalidade. A equipe de Kitasasto, da escola de Koch, mostrou-se hostil em relação a chegada do bacteriologista da escola de Pasteur.


Shibasaburo Kitasato
Médico japonês
 (1852-1931)











Alexander Yersin
Médico suiço
1863-1943
Yersin tomou uma decisão ousada; instalou-se em uma construção rudimentar, um paiol contruído de palha e bambu. Para lá levou seu microscópio, alguns roedores e meios de cultura para as bactérias. Precisaria agora do mais importante; o material biológico.
Os mortos pela doença, cerca de uma hora, ficavam em covas rasas, até serem enterrados. Foi nestes locais que Yersin conseguiu o material que tanto precisava. Abria as mortalhas na altura da virilha, introduzia a agulha no centro do bubão, e com a seringa, aspirava o material do interior.
Yersin, no laboratório, analisando ao microscópio, viu surgir uma enorme quantidade de bacilos diante dos seus olhos, era o bacilo que posteriormente seria batizado como Yersinea pestis.

Enfim o causador de milhões de mortes que por séculos dizimara boa parte da humanidade estava descoberto!!
disponível em 22/04/2012



Yersin in his laboratory in Kennedy Town. Photo: Hong Kong Museum of Medical Sciences
 
 
Os casos da peste continuaram. Yersin precisava esclarecer o meio pelo qual a a doença era transmitida. Seus estudos se intensificavam nos locais mais acometidos.  Yersin isolou e identificou o bacilo no chão das casas e nos ratos mortos. Formulou a teoria de que os ratos transmitiam a doença, que estava parcialmente correta só faltava incriminar também a pulga do rato!
Em abril de 1895, Yersin voltava para o Instituto Pasteur, em Paris, onde as amostras que enviara já haviam sido exaustivamente examinadas.  O Instituto direcionava sua atenção agora para a produção de vacinas e soros.
O bacilo então era introduzido em cavalos, que, em resposta ao agente estranho, produziam anticorpos para combatê-los. O sangue do animal era retirado e dele separava-se o soro contendo anticorpos.
Assim Yersin, dispondo de recursos, retornou a Ásia em 1986, instalou seu laboratório, para a produção do soro antipestoso. Ele administrava o soro em doentes e registrava cuidadosamente suas reações. Uma a um, os primeiros vinte pacientes evoluíram para melhora dos sintomas e a doença desapareceu nas pessoas tratadas.



A PESTE CONTINUA SUA DESTRUIÇÃO

Apesar das recentes descobertas, as condições para a doença propagar-se eram mais favoráveis e por isto a doença continuou sua destruição.
A Índia mantia fortes ligações comerciais e a chegada da peste era questão de tempo. Assim, no verão de 1896,  o porto de Bombaim, foi recebido com a notícia da chegada da peste.  Estradas que levavam ao interior começaram a ficar lotadas de imigrantes de Bombaim. Essa migração de duzentas mil pessoas foi responsável por levar a peste à região central e ao sul da Índia. Medidas urgentes deveriam ser tomadas para conter a peste, que já batia as portas da Europa.
Desta vez, Paul Louis Simond, outro membro do Instituto Pasteur iria até a Índia para estudar a doença.
O meio científico ainda não sabia que os insetos transmitiam a doença. Somente dois anos depois Walter Reed comprovaria a transmissão da febre amarela através do mosquito.
Simond observou nos doentes algumas lesões minúsculas, em forma de vesículas, no mesmo membro em que, a virilha ou axila, crescia o bubão. Recolheu o material do interior dessas vesículas e surpreendeu-se ao encontrar o bacilo da peste.
O rato transmitia a peste e a porta de entrada era a pele. Assim Simond descobriu que o bacilo era introduzido na pele e o único elo seriam as pulgas do rato infectadas pelo bacilo.
Para provar sua teoria Simond montou uma gaiola com dois compartimentos. Em um, colocou um rato infectado pela peste e no outro um rato sadio.
Após o quinto dia o rato sadio começou a mover-se com dificuldade  e no sexto dia morreu.  A sua necrópsia comprovou que ele morreu infectado com a peste.




A PESTE SE ESPALHA NA EUROPA  E NAS AMÉRICAS.

A peste tomou dois rumos; embarcações pelo oceano Pacífico levavam a doença até o Havaí, e posteriormente a cidade de São Francisco nos Estados Unidos. A outra direção que tomaria teria como destino a Europa através do mar Vermelho que atravessando o canal de Suez chegaria ao Mediterrâneo. As relações comerciais, principalmente com Portugual levariam a peste ao Brasil e a Argentina
Em 1899 ocorreu o primeiro caso da peste no Havaí. O foco principal da peste estava no bloco dez do bairro de Chianatow. Foram então proibido a entrada e saída de moradores. Desinfecção com cal foi feita nas ruas e nas casas dos doentes. Os mortos e suas casas foram queimados. Esta foi a pior medida que poderiam ter tomado. Pois o fogo alastrou-se  e, em poucas horas, um incêndio fora de controle tomou conta do bairro.  A peste, neste caso, fez menos vítimas do que o incêndio.
No mesmo ano enquanto o Havaí lutava contra a peste, esta chegava a Portugual, mais especificamente na cidade  do Porto e de Lisboa. Estas duas cidades eram as mais industrializadas de Portugual, abrigava meio milhão de trabalhadores nas indústrias. Ao anoitecer, milhares de trabalhadores, incluindo crianças e mulheres deixavam as fábricas, percorrendo bairros pobres, ruas com quantidades enormes de lixo e ratos e esgotos a céu aberto.
No Brasil a peste entrou pelo porto de Santos,  na época, principal ponto comercial do Brasil.
Um hospital, distante da cidade, fora construído para abrigar pacientes em quarentena e vítimas de epidemias, era o Hospital de Isolamento. As alas eram divididas e por elas somente circulavam pessoas autorizadas. Foi neste local, devido a chegada da peste, que uniu, pela primeria vez,  quatro personagens importantes da história da saúde pública brasileira: Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil e Emílio Ribas.


O antigo Hospital de Isolamento, feito em 1892"
fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0353i.htm
disponível em 22/04/2012

Conforme postagens anteriores o estado de São Paulo dependia do desenvolvimento do café, a província ainda se adaptada à  substituição da mão de obra escrava pelo imigrante, se recuperava das epidemias de cólera e febre amarela,  tentava controlar os casos crescentes de tuberculose entre a população pobre, trabalhava para conter o avanço da malária e lutava para vacinar um maior número de pessoas contra as epidemias da varíola. Com tantos problemas a enfrentar, tudo o que o governo não queria era a chegada da peste no Brasil.



Viela existente em Santos até 1905, chamada Beco 24 de Maio.
 Este local foi arrasado e alargado, formando uma galeria
que comunica a Rua Santo Antonio com a 24 de Maio"Foto publicada com esta legenda no livro A Campanha Sanitária.
fonte:http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0353g.htm
disponível em 23/04/2012..


Em meados de 1899 as autoridades sanitárias encaminharam ofício urgente ao diretor do Serviço Sanitário, Emílio Ribas, chamando a atenção para a quantidade de ratos mortos encontrados nos armazéns de café no porto de Santos. Em 9 de outubro de 1899 enviaram Vital Brasil para dirigir os trabalhos de investigação.
Vital Brasil, no Hospital de Isolamento, examinou vários ratos apreendidos no porto. Cinco dias depois uma jovem morreu com os sintomas da doença. Ao microscópio, Vital Brasil encontrou o bacilo da peste. Nos quatro dias seguintes, junto com a chegada de Emílio Ribas, entraram mais cinco doentes com a peste.
A cidade estava ameaçada pela doença. Representantes da Associação do Comércio de Santos não aceitavam as notícias, discordando dos vereadores na Câmara Municipal. Decidiu-se então chamar o médico carioca Oswaldo Cruz que confirmou a presença peste.
A terceira grande epidemia de peste bubônica, que se iniciara na China, se espalhara pelo mundo e havia chegado em Santos.
Oswaldo Cruz, Emílio Ribas  e Adolfo Lutz permaneciam na cidade para tentar controlar a epidemia. Circulavam pelos corredores do Hospital de Isolamento examinando os doentes. Vital Brasil  não mais fazia parte deste grupo, encontrava-se   num leito do Hospital  acometido pela peste. Após dias de febre e cuidados especiais de seus colegas, e assim como a febre amarela  que também contraíra anteriormente, reagiu e teve a sorte de evoluir para a cura. O soro antipestoso produzido por Yersin era a única esperança de tratamento, mas apenas a França o produzia e, não dispunha de quantidades suficientes para exportar.
O soro francês não poderia ser importado,  assim era preciso construir laboratórios no Brasil para a produção interna.
 Em São Paulo, o governo comprou a Fazenda Butantan para nela instalar os laboratórios produtores de soro antipestoso. Recuperado da peste, Vital Brasil foi designado responsável pela direção do instituto que fabricaria o soro. Ela percorria 9 km de estradas lamacentas que o conduziam a fazenda, na qual se manipulava bacilos causadores da terrível doença. No Rio de Janeiro o governo criou o Instituto de Manguinhos atualmente Instituto Oswaldo Cruz. Assim, em razão da peste, nasceram dois locais que seriam marcos da produção científica de uma época de ouro para a pesquisa brasileira.


Instalações da fazenda desapropriada onde tiveram início as atividades do Instituto Soroterápico Federal que mais tarde se transformaria no Instituto Oswaldo Cruz
fonte:http://www.fiocruz.br
disponível em 23/04/2012


Primorosa obra em estilo eclético e ornamentado ricamente segundo a tradição árabe, o Castelo Mourisco começou a ser construído em 1905
disponível em 23/04/2012


Um recanto de Manguinhos, com as saudades do Oswaldo
[Postal enviado por Oswaldo Cruz a Vital Brazil em 15-VIII-1904
fonte: http://www.fapesp.br/4919.html
disponível em 23/04/2012.

Em 15 de janeiro de 1900, apesar das poucas mortes, desembarcou em Santos, quantidades suficientes de soro antipestoso para controlar a epidemia no Brasil.
A doença continuou no Rio de Janeiro e nos portos da Argentina . Da América do Sul chegou na cidade de Cabo na África do Sul. A peste fechava-se assim a volta ao redor do planeta.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ENQUANTO ISSO NO BRASIL....

A EUROPA ESTUDA E PREVINE AS EPIDEMIAS, O BRASIL RECEBE AS EPIDEMIAS.

No século XIX, enquanto na Europa, grandes nomes discutiam como prevenir ou acabar com as epidemias, o Brasil preparava o terreno para recebê-las.
Em 1808, a corte portuguesa, com seus 10 mil a 15 mil integrantes, chegava no Rio de Janeiro,escoltada pela Inglaterra,  fugindo das tropas de Napoleão.
Com a chegada da corte, e o aquecimento dos negócios da colônia, o tráfico aumentou de forma exponensial: o número de escravos desembarcados  no Rio saltou de 9689 em 1807 para 23230 em 1811. A média anual de navios negreiros atracados no porto também aumentou: de 21 no período anterior a 1805 para 51 depois de 1809. Os navios negreiros despejaram no principal mercado negreiro do Valongo, por ano, cerca de 18.000 a 22.000 negros, entre homens, mulheres e crianças.

Mercado do Valongo - 
Jean Baptiste Debret

Entre os séuclos XVI e XIX, cerca de 3,6  milhões a 4 milhões de escravos africanos entraram no Brasil, o maior importador das Américas. .
A cidade transformou-se no coração do Império, centro político e econômico. Tornou-se escala obrigatória de embarcações e líder mundial na produção de café em 1835.

A colheita de café por Candido Portinari
Inglaterra, em franco desenvolvimento industrial, com o interesse em aumentar seu mercado consumidor, fazia grande pressão no sentido de proibir o tráfico negreiro, o que foi oficializado em 1831.
É aprovada na Inglaterra a lei conhecida como Bill Aberdeen, que dava direito a Marinha de Guerra britânica prender navios negreiros no Atlântico e julgar seus tripulantes. Mas para o Brasil tal era muito difícil privar o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, do ingresso de escravos.
Em função da ilegalidade do tráfico, as condições dos escravos ficaram muito piores que antes. Navios não apropriados eram utilizados para burlar o patrulhamento britânico na costa brasileira. Eram navios menores e com carga máxima. Em terra os cativos permaneciam em mercados clandestinos, nus, para o comércio.  Não existiam medidas sanitárias e, consequentemente, houve aumento das epidemias na cidade, disseminadas pelos negros que eram descarregados no litoral da província, clandestinamente.

FONTE: http://marconegro.blogspot.com.br/
Entre 1831 e 1855 entraram cerca de setecentos mil negros, e com eles as epidemias.
O Rio de Janeiro, entre 1821 e 1849,  tornou-se uma verdadeira cidade africana: dos 266 mil habitantes, 110 mil eram escravos. Para cada 3 brancos existia um escravo. Em toda história da humanidade somente a Republica de Roma no século I a.C., dispôs de tantos escravos: três escravos para cada cinco homens livres. A cólera e a febre amarela eram ameaças reais que não tardariam a chegar.
Não havia sistema de esgoto. Os escravos levavam os dejetos humanos em recipientes  para as praias. Aqueles moradores que não dispunham de escravos, jogavam estes dejetos nas ruas, durante a noite, pelas janelas.
Os escravos eram proibidos de usar calçados, mantendo contato direto com os dejetos humanos.  No verão, com as chuvas, começavam as doenças febris e as famílias mais abastadas passavam férias em cidades mais afastadas como Petrópolis.


FEBRE AMARELA AJUDOU NA PROIBIÇÃO DO TRÁFICO NEGREIRO

No final de 1849, aconteceu o inevitável; a chegada da febre amarela ao Brasil. No Rio de Janeiro e na Bahia, já fervilhava o mosquito transmissor o famoso Aedes aegypti. Faltava apenas a chegada do vírus, abundante no Caribe.
Um embarcação procedente da cidade de Nova Orleans, fez o escala em Salvador e no Rio de Janeiro, onde desembarcaram doentes com febre amarela. Esse foi o provável encontro do vírus com os mosquitos já existentes na cidade, do qual resultaram os primeiros casos da doença.
Com a chegada do verão de 1850, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma epidemia da doença em consequência da proliferação dos mosquitos. Aproximadamente um terço da população foi acometida. Apesar de o número oficial de óbitos ser 4.160, acredita-se que tenha sido maior, atingindo a casa de dez mil a 15 mil, pois no início o governo proibiu a notificação, temendo o pânico na população, além das mortes que ocorreram em casa. A doença permaneceu endêmica e eclodia a cada época de chuvas, aumentado cada vez mais.
Em até 1890 morriam cerca de  mil pessoas a cada verão no Rio de Janeiro.
Comissões eram formadas por profissionais da área para estudarem as prováveis causas das epidemias. Mas estas ainda estavam muito presas a teoria dos miasmas, e também ainda mais ultrapassada, a teoria religiosa de que tudo era castigo divino pelas imoralidades que reinavam no Império.
Os médico brasileiros levantaram a tese da importação de "venenos" por meio dos navios negreiros, estabelecendo um vínculo direto do tráfico com a epidemia.
Discutia-se então a teoria de que as condições insalubres dos escravos nos "tumbeiros" propiciava o aparecimento do "veneno", que por sua vez, ocasionava a febre amarela. E o fato dos negros serem menos acometidos por já estarem "acostumados" com a doença. O que é verdadeiro se pensarmos em "veneno" como o agente causal e em "acostumados" como a aquisição de imunidade.
O ano de 1850 marcou o fim definitivo do tráfico de negros clandestinos africanos.
Com o crescimento das exportações de café, em pouco tempo, esse número de escravos não seria mais suficiente. Estavam abertas as portas para a política de imigração de estrangeiros para a cafeicultura...


A FEBRE AMARELA AGORA ACOMETE A  IMIGRAÇÃO

Com a fim do tráfico negreiro, os cafeicultores precisavam de mão de obra barata, independente da raça, para as fazendas de café. Por outro lado a burocracia intelectualizada queria, com a imigração, "embranquecer a raça". Para isto era necessário a imigração de uma raça específica, a européia.

  • Na pintura, há uma negra com as mãos para o céu, agradecendo o fato de seu neto ter nascido branco, visto ser fruto da relação de um homem branco com uma mulher mestiça.
    O artista soube captar perfeitamente o desejo elitista de embranquecimento da população. 

Após a saturação da plantação de café no Rio de Janeiro, o cultivo se voltou para o interior paulista.
Iniciou o desenvolvimento de São Paulo com as plantações de café e a construção das ferrovias, o lucro era empregado na urbanização e industrialização do estado. Era necessário, cada vez mais, a mão de obra dos imigrantes. Estes tinham suas passagens de navio subsidiadas, assim como alojamento e o transporte até as fazendas de café.
Eram construídas hospedarias para abrigar o número crescente de europeus provenientes do porto de Santos, onde aguardavam até serem encaminhados para o interior de São Paulo. A maior hospedaria  foi construída no Bairro do Brás e abrigava quatro mil pessoas.




Ao desembarcar no porto de Santos, os imigrantes eram encaminhados para a Hospedaria de Imigrantes, no Brás. É o caso desse grupo de portugueses, que chegarma ao Brasil em 1938. Daí eram enviados para seu destino nas fazendas de café do interior do estado. Hoje o prédio abriga o Museu do Imigrante. (Memorial do Imigrante)
fonte: http://www.aticaeducacional.com.br


Em 1887 entrou no Brasil cerca de 32 mil europeus, e 92 mil em 1888. Em 1900, no auge das exportações de café, o número de imigrantes já seria de um milhão.
Um dos principais  fatores desfavoráveis à política de imigração eram as doenças infecciosas no Brasil, principalmente a febre amarela.
Os imigrantes chegavam ao porto de Santos, se aglomeravam em hospedarias que abrigava, muitas vezes mais do que o dobro da sua capacidade, e  aguardavam transporte para o interior de São Paulo. Ficavam então sujeitos a contrair febre amarela, pois, como esta doença era rara na Europa, não tinham imunidade e acabavam morrendo em terras brasileiras.
A febre amarela era um terror tanto para os imigrantes quanto para os fazendeiros. Entre 1895 e 1897, foi a doença que mais matou, responsável por 36% do óbitos.
Além das condições insalubres nas hospedarias, um outro grande problema enfrentado por essas pessoas foram as  más condições a que os cafeicultores, acostumados ao trato com escravos, as submetiam. Elas não contavam com sistema de saúde adequado, ficavam em alojamentos precários nas fazendas, sua jornadas de trabalho eram longas, a alimentação deixava a desejar.
Em 1902, a Itália proibia a população de emigrar para o Brasil. Em 1908 foi a vez da Espanha. Os cafeicultores paulistas forçaram a República a liberar a imigração de outras raças consideradas muito diferentes da nossa, e assim foi permitida a entrada de japoneses em 1908.


 O INÍCIO DOS CORTIÇOS

Na década de 1850, proliferavam os cortiços nas grandes cidades do Império, principalmente no Rio de Janeiro, como forma de habitação das classes de renda baixa. Os cortiços eram galpões de madeira subidivididos internamente e alugados por seus proprietários, geralmente um português dono de armazém próximo ou até um membro da aristocracia. Quanto mais ocorriam alforrias de escravos e quanto mais imigrantes pobres chegavam, mais os cortiços se expandiam, por abrigar uma população sem condições de pagar os aluguéis elevados. Esta situação  atraía as doenças infecciosas e as crianças eram as principais vítimas. Nesses aglomerados reinava a tuberculose, difteria e escarlatina.
Em 1889 a tuberculose passou a ser a principal causa de morte das pessoas pobres. Como não acometia os imigrantes, não era combatida com tanta ênfase quanto a febre amarela.
De certa forma os cortiços contribuíram para a eclosão da tuberculose nos principais centros.
A tuberculose, difteria e escarlatina acometiam a população empobrecida dos cortiços e não traziam maiores consequências à política de imigração, ao contrário da a febre amarela, que acarretava problemas.
A febre amarela atrapalhava muito a política de imigração, chegando a ameaçar a produção da maior fonte de renda do Império, o café. Com isso, iniciou-se seu combate. As outras epidemias que acometiam a população pobre, contudo ficavam em segundo plano.
Com a criação da Junta Central de Higiene, e a teoria dos miasmas, ainda muito forte, iniciou-se a perseguição dos cortiços, sujos e com grande aglomeração populacional.
Iniciava-se a proibição à construção de cortiços sem a aprovação do Governo, assim como a fiscalização de latrinas, manutenção de limpeza e recolhimento dos excremento, a perseguição aos cortiços e a expulsão dos seus moradores da cidade e com eles a classe mais pobre. Essas medidas se confundem, tendo um caracter mais social do que sanitário, beneficiando mais a política de "embranquecimento da cidade", do que erradicando as doenças.
Uma drástica medida  foi em 1893, quando a presença de tropas no maior cortiço do pais, o Cabeça de Porco, onde abrigava cerca de quatro mil pessoas, foram obrigadas a deixar o lugar, carregando seus pertences. Muitos dos que foram desalojados construíram moradias ao pé dos morros e, sem mais lugar, começaram a subida que terminaria compondo as favelas atuais da cidade do Rio de Janeiro.


Entrada principal do Cortiço Cabeça de Porco.Con D''Eu, marido da Princesa Isabel, era o dono do Cabeça de Porco.
fonte: http://sul21.com.br/jornal/2012/02/lembrando-o-cabeca-de-porco-em-tempos-de-pinheirinho/



"Era dia 26 de janeiro de 1893, por volta das seis horas da tarde, quando muita gente começou a se aglomerar diante da estalagem da rua barão de São Félix, nº 154. Tratava-se da entrada principal do Cabeça de Porco, o mais célebre cortiço carioca do período: um grande portal, em arcada, ornamentado com a figura de uma cabeça de porco, tinha atrás de si um corredor central e duas longas alas com mais de uma centena de casinhas. Três dias antes os proprietários do cortiço haviam recebido uma intimação da Intendência Municipal para que providenciassem o despejo dos moradores, seguido da demolição imediata de todas as casinhas. A intimação não fora obedecida, e o prefeito Barata Ribeiro prometia dar cabo do cortiço à força. Às sete horas e trinta minutos da noite, uma tropa do primeiro batalhão de infantaria, comandada pelo tenente Santiago, invadiu a estalagem, proibindo o ingresso e a saída de qualquer pessoa 
Diante de tamanho aparato repressivo, todavia, não parece ter havido nenhuma resistência mais séria por parte dos moradores à ocupação da estalagem. Os trabalhadores começavam a destelhar as casas quando saíram de algumas delas crianças e mulheres carregando móveis e colchões e tudo o mais que conseguiam retirar a tempo. Terminada a demolição da ala esquerda, os trabalhadores passaram a se ocupar da ala direita, em cujas casinhas ainda havia sabidamente moradores. Várias famílias se recusavam a sair, se retirando quando os escombros começavam a chover sobre suas cabeças. Mulheres e homens que saíam dos quartos ‘estreitos e infectos’ iam às autoridades implorar que ‘os deixassem permanecer ali por mais 24 horas’. Os apelos foram inúteis, e os moradores se empenharam então em salvar suas camas, cadeiras e outros objetos de uso. Os trabalhos de demolição prosseguiram pela madrugada, sempre acompanhados pelo prefeito Barata. Na manhã seguinte, já não mais existia a célebre estalagem Cabeça de Porco."

CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo: Companhia das letras, 1996.



A CÓLERA CHEGA AO BRASIL

Enquando os habitantes do Rio de Janeiro ainda padecem com a febre amarela, a Europa vivia o auge da epidemia de cólera. De lá chegou ao Brasil em 1855, onde se espalhou pelo litoral. Agora os médicos seriam obrigados a tratar de mais uma nova doença.
Na Bahia,  com a população vivendo em condições muito precárias, morriam cerca de oito a dez por dia. Se a febre amarela acometia prinicipalmente os imigrantes e brancos a cólera não poupava os negros. A população mais carente, que vivia em precárias condições, era a mais atingida.
A Bahia perdeu cerca de 3,6% de sua população: 50% negros, 35% mulatos e 15% brancos. Pereceram grande número de lalvadeiras que trabalhavam nos riachos contaminados, lidando com roupas que continham dejetos humanos.
O Nordeste foi castigado; Paraíba perdeu 10% da população, Salvador 18%, Belém 4% e Pernambuco  cerca de 37 mil habitantes. A cidade do Rio de Janeiro enterrou 4.800 vítimas, metade delas, escravos.
Já que a medicina não podia explicar os fatos somente com a teoria dos miasmas, a Igreja encontrou terreno fértil, para explicar as doenças como castigo de Deus ao povo brasileiro, pelos pecados cometidos.
As pessoas passaram a frequentar mais a Igreja, os jornais anunciavam procissões e cortejos.
Esta grande epidemia de cólera mudou o hábito de enterrar os mortos em Igrejas. Interrava-se os mortos em Igrejas, para que estes ficassem mais perto dos vivos e das orações por sua alma..
Baseada na teoria dos miasmas, tal prática começou a receber críticas da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, na década de 1830. A decomposição do cadáver, poderia emanar substâncias miasmáticas  para a população. Era comum o corpo sepultado não estar devidamente vedado espalhando odores da decomposição. Os mortos portanto, deveriam ser enterrados em lugares distantes do núcleo urbano, para evitar os miasmas e à profundidade máxima. Estas medidas criaram revoltas principalmente na Bahia, opuseram-se a estas medidas as irmandades religiosas, os frades e a população que viu sua crença religiosa ameaçada, temendo ser sepultada longo do local em que foi batizada Este movimento ficou conhecido como Cemiterada.


Enterro de uma negra - (Pintura de Debret)
Os enterros eram feitos nas igrejas pois as pessoas acreditavam que morrer em terra firme e ocupar um túmulo em lugar sagrado representava o verdadeiro “descanso em paz”. A igreja era vista como um pedaço do céu na Terra. Ocupar uma cova no interior de um espaço sagrado era uma forma de manter os mortos em contato com o mundo dos vivos, sendo sempre lembrados pelos freqüentadores das igrejas em suas orações.  Os locais dos túmulos eram devidamente escolhidos de acordo com o poder aquisitivo do morto, aqueles que tinha dinheiro para serem enterrados próximo do altar significava estar mais próximo de Deus.
fonte: http://ferreiragomes.wordpress.com/ disponível em 17/04/2012