quinta-feira, 21 de março de 2013

A GRANDE DESCOBERTA


No começo do século XX, as infecções eram o temor: febre era motivo para o pânico se instalar nas famílias. As principais vítimas eram as crianças. A pneumonia, tuberculose e diarréia eram as principais causas de mortes.

As primeiras décadas do século XX foram consequências da época de ouro vivida até então pela Microbiologia: já era conhecido a existência dos microorganismo, os mecanismos de transmissão através de insetos e ratos, água contaminada, contato íntimo entre as pessoas.

Medidas sanitárias foram adotadas: a  água começou a ser tratada e medidas de educação tais como a lavagem das mãos, dos alimentos e controle de animais e insetos disseminaram-se. Todas estas medidas causaram um grande impacto na redução de óbitos por processos infecciosos, mas, o medo ainda permanecia.

Mesmo sem a descoberta de nenhuma droga para destruir os microorganismos, as taxas de mortalidade por doenças infecciosas caíram drasticamente.

Um outro capítulo das doenças infecciosas começaria com a descoberta dos antibióticos:
 
Alexandre Fleming nasceu na Escócia em 1881. Graças a uma bolsa de estudos, Fleming cursou a Universidade de Londres, sendo empregado do Hospital Saint no laboratório de Inoculação. Foi neste laboratório, em 1928, que ele se viu agraciado com uma séria de acontecimentos ao acaso que lhe permitiu realizar uma das grandes descobertas do século XX:

 
A penicilina.



Alexander Fleming around 1909. He discovered penicillin in 1928.
disponível no endereço eletrónico: http://www.nytimes.com/2009/02/24/health/24firs.html?_r=0



Era um dia atípico em Londres, estava muito quente. Fleming chegou ao laboratório com a intenção de inocular algumas cepas de estafilococos. Seria seu último dia de trabalho, ficaria por 10 dias em férias, por isto, e também por causa do calor,  resolveu deixar as placas recém inoculadas na bancada e não na estufa.

Abaixo do seu laboratório, se encontrava o laboratório de cultura de fungos, onde era cultivada a espécie Penicillium notatum.

Quando Fleming retornou das férias, observou que a cultura de estafilococo havia sido contaminada por fungo e perto de onde crescera o intruso, o estafilococo não cresceu.
 


Placa  apresentando fúngico e bacteriano mais afastado




Este resultado só foi permitido por uma série de fatores:

Se Fleming colocasse as culturas de estafilococos na estufa, cuja temperatura é em torno de 37ºC, o fungo não cresceria.
 
Se Fleming deixasse as placas incubando por apenas 48 horas, que é o tempo suficiente para o crescimento de estafilococo, o fungo também não teria tempo para crescer.
 
Se o laboratório de cultura de fungos não ficasse tão próximo ao laboratório de Fleming, esporos de penicilium não estariam presentes no ar próximo às placas,  não contaminariam os meios de cultura e, portanto, não inibiriam o crescimento do estafilococos, uma vez que a penicilina não mata o estafilococo e sim impede seu crescimento.
 
Se esta experiência não houvesse sido com estafilococo e com Penicillium notatum, poderia ter outros resultados, uma vez que nem toda bactéria é sensível a penicilina e nem todo fundo produz penicilina.

Se Fleming estivesse cansado, chegando no laboratório perceberia o que aconteceu com as culturas e iria ficar irritado com o serviço perdido, jogaria tudo fora, para recomeçar todo o trabalho!! Mas estava voltando de férias, cheio de vontade de trabalhar e cheio de idéias. Olhou para aquelas placas com outros olhos: viu solução e não problema!! 

Fleming começou seus estudos a partir do caldo de cultura em que se deu o crescimento do fungo, descobrindo que a penicilina apresentava ação destruidoras sobre várias bactérias causadores de infecção de pele, garganta, pneumonia , gonorréia e meningite. Assim ele começou  tratamentos por meio da aplicação local de caldo de penicilina nos tecidos infeccionados, lavando o ferimento de pele com a nova droga e aplicando-a em olhos infectados. A administração do caldo via venosa era vista, pela comunidade médica, com muito receio e os experimentos ficaram por aqui.... 

Os resultados de Fleming foram apresentados à comunidade  científica no ano de 1929. Seu trabalho, publicado numa renomada revista científica britânica, podia ser lido pelo meio médico mundial. No mesmo ano em que a Inglaterra começava a conhecer a possibilidade de uma substância com poder contra bactérias, ocorria um fato do outro lado do Atlântico que favorecia o emprego de penicilina no futuro: a quebra da Bolsa de Nova York.  

 

 

 

A Segunda Guerra Mundial:
 o impulso para o desenvolvimento da penicilina. 

Numa terça-feira de outubro, cerca de dez mil pessoas se aglomeraram  nos redores da sede da Bolsa de valores de Nova York, em Wall Street, para receber a notícia da queda das ações. No final do dia, consumou-se a queima de 15 bilhões de dólares. Os Estados Unidos que viram sua economia crescer exponencialmente após a 1ª Guerra Mundial, reduziu o empréstimo bancário para outras nações e suspendeu as importações para proteger o mercado interno. Assim alastrou-se a maior crise econômica que o mundo veria na sua história.

Um dos países mais afetados foi a Alemanha; ainda pagava as pesadas indenizações da Primeira Guerra, impostas pela Inglaterra e França. A suspensão dos empréstimos bancários, que recebia dos Estados Unidos, fez que o desemprego aumentasse na Alemanha.

No auge da crise em 1932 e 1933 a Alemanha chegou a ter 40% de sua população desempregada.

A República Democrática Alemã perdeu todo seu prestígio frente à população, cresceram as votações no Partido Nazista, fundado em 1920 por Adolf  Hitler, que combatia a democracia, o comunismo e, principalmente, criava esperanças para uma população humilhada em razão das medidas impostas pelas nações vencedoras na Primeira Guerra.

Em 1933 Hitler foi eleito chanceler pelo presidente Paul Von Hindenburg: estavam abertas as portas para a ascensão definitiva do nazismo.

Hitler suspendeu o pagamento das dívidas da guerra, impôs seu regime de governo com a proibição de qualquer outro partido e a perseguição aos políticos que lhe eram contrário, assim como à população que não pertencesse à  “raça superior”  alemã. 

A Alemanha nazista tornava-se cada vez mais insuportável  para os perseguidos pelo regime. Muitas pessoas eram obrigadas a tentar a vida em outros países. Entre estes fugitivos encontrava-se Ernst Boris Chain, que transferiu sua atividade científica para a Universidade de Oxford, na Inglaterra.  

Ao saber da existência das culturas dos fungos de Fleming na universidade e conseguindo verbas da Fundação Rockefeller iniciou seus trabalhos com a penicilina no mesmo ano que Hitler invadiu a Polônia e deflagrou a Segunda Guerra Mundial... 

Foi determinada a quantidade de penicilina produzida pelo fungo e quanto seria necessário para a sua atividade. Purificaram a droga e conseguiram, por congelação, desenvolver o pó para a diluição e administração pela veia. Encontraram a forma ativa da penicilina na urina de camundongos, que receberam a droga via venosa, e se animaram com a possibilidade de sua distribuição por todos os fluidos do corpo. 

Com os resultados animadores  iniciou-se a produção da droga em maior quantidade; frascos de meio de cultura eram fabricados, nutrientes eram desenvolvidos para o fungo produzir mais penicilina e pessoas revezavam para a agitação dos frascos.  


Ernst Boris Chain - Prêmio Nobel em 1945 pelos trabalhos com a penicilina
fonte:http://microbitacora.blogspot.com.br/2009/05/testigos-cientificos.html
 

A penicilina era produzida em quantidades suficientes para o tratamento de civis e militares feridos, foi reduzida a taxa de mortalidade do conflito, diferentemente do que ocorrera na Primeira Grande Guerra. Juntamente com as pesquisas da produção da bomba atômica  do urânio 235, a penicilina tornava-se o outro grande segredo da Segunda Gerra Mundial


Fonte: http://www.taringa.net/posts/info/10552232/La-Penicilina-en-la-II-Guerra-Mundial.html
 
 

Não posso deixar este momento sem mencionar a proliferação dos piolhos e consequentemente do tifo, já mencionado em várias postagens anteriores:
Diferentemente das guerras anteriores, os piolhos eram os pioesr inimigos dos soldados no front. Mas na Segunda Grande Guerra estes pequenos parasitas marcaram sua presença nos campos de concentração.
No ano de ascensão de Hitler, em 1933, implantou-se a política de extinção das supostas "raças inferiores". Criou-se a temida Gestapo, órgão destinado à espionagem e perseguição dos judeus, que foram excluídos da vida econômica e social da Alemanha. Passaram a ser demitidos e suas lojas foram boicotadas pela população engrossando a campanha anti-semita. Realizaram-se prisões, assassinatos e também confisco de patrimônios judaicos durante essas perseguições.
Com o começo da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939,  proliferavam os guetos e campos de concentração nos territórios ocupados, inaugurando outra etapa do extermínio. Os judeus eram aprisionados em guetos, que se multiplicavam nas cidades de Pietrkow, Lodz e Varsóvia. Ficavam confinados em bairros delimitados por muros, madeiras e arames farpados. Viviam sem condições de higiene, morando aglomerados em cômodos superlotados de famílias, onde a infestação de piolhos era uma constante.  O alimento que entrava era limitado, as refeições tinham quantidades mínimas de calorias, e assim houve fome e morte por desnutrição. Com a infestação de piolhos e a falta de alimentação adequada, as epidemias de tifo, tuberculose e disenteria,  eram constantes; cerca de meio milhão de judeus morreram nos guetos por desnutrição e em epidemias. Como tentativa de conter as doenças, pessoas acometidas pelas doenças, principalmente idosos e crianças, eram levados dos guetos para os campos de extermínio. Os campos de concentração, onde eram submetidos a trabalhos forçados também se disseminaram na Europa, e, com eles, as epidemias.
 

 

A Segunda Guerra Mundial:

Mais uma vez  impulso para o desenvolvimento de outra droga

 
Foi durante a Segunda Guerra que o mundo presenciou o aparecimento de uma nova droga eficaz no combate ao tifo, após tentativa frustrada dos americanos de desenvolvimento de uma vacina.  Não conseguindo produzi-la, sintetizaram um pó com ação contra piolhos. O dicloro-difenil-tricloroetano, DDT, era pulverizado nos utensílios e roupas, com efeito letal para esses insetos. 
Foi na cidade de Nápoles que, pela primeira vez, se empregou a nova droga com eficácia no controle de uma epidemia. As tropas italianas recuavam diante do avanço dos aliados, que iniciavam a conquista de seu país. O tifo eclodiu entre os militares, principalmente entre os prisioneiros, e foi transmitida para os civis de Nápoles. Em dezembro de 1943, a epidemia chegava à cidade . A força aliada lançou mão de sua nova arma contra a doença por meio do combate ao piolho. Mais de três milhões de napolitanos foram pulverizados com o DDT por três meses. A epidemia durou  pouco mais de dois meses, acometendo quase 1.500 pessoas e causando duzentas mortes.  O medicamento mostrava-se eficiente  no controle e prevenção de epidemias de tifo e foi uma arma a mais dos aliados  para a reconquista do território europeu nos anos finais da guerra.


Essa foto de 1945, mostra um soldado britânico pulverizando uma prisioneira recém-libertada das condições imundas no campo de concentração de Bergen-Belsen - medida necessária para combater o tifo epidêmico
fonte:http://adrenaline.uol.com.br/forum/papo-cabeca/254012-dez-piores-epidemias.html
 
 

 

 

 

Um comentário:

  1. Muito interessante essa matéria. Publicação de relevante dados histórico que certamente não são contemplados nos livros didáticos.

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